Como o contexto dado nesse período era um enfrentamento às políticas neoliberais, e suas consequências (como o desemprego e flexibilização da legislação), a abordagem sobre o trabalho foi o que encabeçou a 1ª Semana Social, trazendo o tema “Mundo do trabalho, desafios e perspectivas”. Nesse mesmo ano, 1991, o tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi: “Fraternidade e mundo do trabalho”, cujo lema foi: “Solidários na dignidade do trabalho”.
Vejamos que a Igreja resgata seu papel profético de denunciar as injustiças e assume em sua ação evangelizadora aquilo que São João Paulo II, uma década antes, propôs: “o trabalho humano é uma chave, provavelmente a chave essencial, de toda a questão social” (Carta Encíclica Laborem Exercens, de setembro de 1981).
As Semanas Sociais também trouxeram temas, de grande mobilização social, desde as bases locais até o nível nacional. Todos denunciando as questões sociais, na perspectiva de construir mudanças políticas, bem como, fortalecer as organizações sociais.
A 3ª SSB (1997-1999) aborda o resgate das dívidas sociais, evidentemente, lá se encontra o desemprego, a desproteção do/a trabalhador/a, má remuneração, entre outras dívidas que afetam diretamente o trabalho.
Deste modo, as Semanas Sociais vieram como uma força vital de articulação das forças sociais e políticas em prol de um levante de diversos segmentos de pastorais sociais, movimentos sociais, organismos, igrejas, universidades. A conjuntura apontou a necessidade e importância de realizarem trabalhos em conjunto. Portanto, das cinco semanas sociais brasileiras, três aconteceram na década de 1990.
Nesse período, mais uma Campanha da Fraternidade da CNBB tratou sobre “Fraternidade e os desempregados”, refletindo o lema “Sem trabalho, por quê?” Não sem razão a Igreja assumiu a pauta do trabalho, talvez por que não faltasse justificativa social e eclesial. Na carta Encíclica Centesimus Annus, do papa São João Paulo II, sobre os 100 anos da Rerum Novarum, ele destaca: “Simultaneamente o trabalho tem uma dimensão social, pela sua íntima relação, quer com a família, quer com o bem comum” (LE, 06). Que relação tem hoje o mundo do trabalho com a família e o bem comum?
Na 4ª e 5ª SSB o tema do Trabalho não aparece de forma tão perspicaz. Talvez por que estávamos num período de governos mais progressistas, até mesmo chegamos a menor taxa de desemprego do país. Mesmo com várias tentativas de flexibilização das leis trabalhistas em curso. Todavia, as pastorais e movimentos também se encontravam com mais dificuldades de lideranças, novos quadros, etc.
As Semanas Sociais surgiram na Igreja do Brasil, num momento crucial para a Igreja e a sociedade, no início da década de 1990. Por um lado, com o avanço das políticas neoliberais, desemprego e por outro, com as mudanças internas na própria Igreja institucional, com avanço do “conservadorismo”, que refletiu nas pastorais sociais.
Em 2014, o papa Francisco convida os momentos populares para escutá-los, em Roma e afirma: “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”. E cá estamos nós, num contexto de avanço de uma perspectiva de política neoliberal, com metodologias fascistas, entregando o país aos Estados Unidos. E a classe trabalhadora enfrenta um desemprego avassalador, em meio à pandemia da Covid-19, com mais pessoas desempregadas do que pessoas trabalhando, com a legislação do trabalho arruinada e perdendo direitos, após aprovação da terceirização irrestrita, reforma trabalhista, emenda constitucional de teto dos gastos, reforma da previdência, bem como, uma precarização sem precedentes.
Portanto, é notório a importância de explorarmos na 6ª SSB a temática do Trabalho, como parte dos três Tês do papa Francisco. Como elemento “chave da questão social”, para garantir segurança na economia, soberania dos povos, e uma democracia participativa.