Reflexão e arte marcaram o Seminário Nacional da Jornada Mundial dos Pobres. O evento realizado de forma on-line foi transmitido na noite desta quinta-feira, 4 de novembro, pelas redes sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e entidades parceiras
Por Marcus Tullius
O Seminário, com tema “Sentes Compaixão?” foi inspirado na iluminação bíblica “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7), escolhida pelo Papa Francisco como tema para a V edição da jornada. O seminário foi conduzido pela secretária-executiva da 6ª Semana Social Brasileira, Alessandra Miranda, e pela coordenadora da Pastoral da Mulher Marginalizada, Fabrícia Paes.
O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo enviou uma mensagem em vídeo aos participantes do seminário na qual afirmou que a Jornada Mundial dos Pobres oferece a oportunidade para capacitar "o nosso coração e reconhecer a presença dos pobres entre nós".
O presidente da CNBB afirmou que a indiferença em relação aos pobres é um veneno que adoece a alma humana. Quem não se faz próximo dos excluídos, daqueles que são mais frágeis, distancia-se de Jesus. Ele destacou ainda necessidade da partilha para combater a indiferença e a discriminação e convocou os cristãos a partilharem a vida com os mais pobres, lutando por vida digna para todos.
“Sejamos, pois, capazes de partilhar o sofrimento de cada pobre com muita empatia e solidariedade. [...] Partilhar é, de fato, reconhecer a dignidade de cada pessoa que sofre, construindo a proximidade", disse.
A alma de toda religião
O teólogo capuchinho, frei Luiz Carlos Susin refletiu sobre "igualdade, identidade e descolonização para uma prática solidária", a partir da constatação da pobreza real e a resposta adequada a isso. Para o frei, a inspiração bíblica escolhida pelo Papa Francisco para a Jornada Mundial, “Pobres sempre o tereis convosco”, serviu, algumas vezes, como acomodação diante da pobreza.
O teólogo destacou a colaboração do capitalismo desregrado para a produção de desequilíbrios e também refletiu sobre os sentidos da palavra "pobre". “A palavra quer dizer carência, falta. Mas não é falta do luxo, é a falta do que é necessário. E a gente pode medir essa falta a partir do sofrimento que ela provoca”. Ele também afirmou que uma sociedade que impõe sofrimento pela carência, precisa ter sua organização repensada, porque expressa um desequilíbrio.
Interrogando se a compaixão é um sentimento universal, frei Susin afirmou que não é algo tão natural. “A gente aprende compaixão não com a racionalidade, não com a cabeça. A gente aprende com a sensibilidade e expondo aos outros.” Para ele, “a compaixão, a generosidade e a hospitalidade são a alma de toda religião”.
Experiências de Esperançar
O animador social e membro do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, Edson Franco, deu seu testemunho de ex-morador de rua e cantou uma música de sua autoria. Outra participação musical foi da artista da caminhada e professora de música, Raquel Passos, que utilizou o instrumento pau de chuva para fazer sua poesia e música.
Também foram exibidas experiências de esperançar por meio de ações desenvolvidas pelo Movimento Sem Terra, em Guarapuava, no Paraná; pela Rede Misericórdia sem Fronteiras, da CRB do Recife; pelo Padre Júlio Lancelotti e a Pastoral do Povo de Rua, em São Paulo; pelo Serviço Franciscano de Solidariedade, em São Paulo; pela Pastoral Carcerária e o acolhimento às mulheres em situação de cárcere, em Santa Catarina.
A segunda reflexão da noite ficou a cargo da presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), irmã Maria Inês Vieira Ribeiro. A religiosa agradeceu aos que partilharam a noite e iniciou sua fala recordando a fala de frei Susin: “compaixão é um ato de liberdade”. Os testemunhos de trabalhos apresentados, aponta Maria Inês, “nos levam até à Evangelii Gaudium, a primeira exortação apostólica do Papa Francisco, exatamente pelo esforço que ele fez e faz, de retomar o Vaticano II e nos mostrar o caminho”.
Irmã Maria Inês ressalta que, a partir dos vídeos apresentados, ficam visíveis os cinco verbos apresentados pelo Papa Francisco na Evangelii Gaudium número 24. E que eles devem estar presente em toda as ações pastorais desenvolvidas pelas congregações religiosas e paróquias: “primeirear, envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar”.
“Bendito seja o nosso Papa Francisco e todos aqueles que estão nestas ações solidárias. Bendito a ele que proclamou este Dia Mundial dos Pobres, para nos sensibilizar cada vez mais, para que cresçamos nesta compaixão de que tão bem nos falou o frei Susin. Que possamos, irmãos e irmãos, não só celebrarmos, mas partilharmos concretamente com nossos irmãos e irmãs, porque não é só dar, é sensibilizar-se e envolver-se”, encerrou a religiosa.