Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas é celebrado, hoje (8/2), no dia de Santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa que foi vítima deste crime ainda na juventude
Por Thiago Coutinho | Canção Nova
Em 2014, o Papa Francisco chamou atenção para um tema muito delicado que tem sido uma chaga para o mundo: o tráfico humano. Assim, o Santo Padre instituiu o dia 8 de fevereiro como o Dia Mundial de Oração e Reflexão Contra o Tráfico de Pessoas.
A data é celebrada no dia de Santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa que, quando menina, foi vítima de tráfico humano. Celebração neste dia reforça também o quanto mulheres e crianças ainda são as vítimas mais vulneráveis deste crime.
A chegada da pandemia, segundo as Pontifícias Obras Missionárias (POM), tornou a situação de vulnerabilidade das pessoas, especialmente das mulheres, ainda pior. De acordo com Alessandra Miranda, que é articuladora da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, a desigualdade social ainda é um dos principais motivos para que o tráfico humano não diminua.
“Os países ou continentes mais afetados pela desigualdade econômica são mais afetados pelas diferentes formas de violências. Isso explica muito sobre os países da América Central (Honduras, Guatemala e Nicarágua) e alguns da América do Sul (Brasil e Paraguai) que fazem parte dos territórios com mais casos de tráfico de pessoas do continente. O desemprego ou subemprego em altos índices, assim como o déficit de moradia, o racismo e outras violações, estão nesta triste conjuntura atual. Importante lembrar que as mulheres representam 72% das vítimas”, explica Alessandra.
A Igreja tem se mobilizado para estender seus esforços para coibir este crime. Segundo a articuladora, o Conselho Episcopal Latino Americano, a CNBB, a Rede Um Grito pela Vida e outras organizações como a Caritas e a Rede Internacional de Vida Consagrada Talitha Kum são apenas alguns exemplos de atuação religiosa de combate ao tráfico humano.
“Esses órgãos organizam debates, seminários e processos de formação para tratar da temática e ajudar na compreensão de que o tráfico de pessoas existe e pode estar acontecendo ao seu lado”, observa Alessandra.
Crimes na América do Sul
De acordo com a ONU, o maior número de mulheres que são traficadas para fins sexuais se encontra na América do Sul. “Dados da Pesquisa Nacional sobre o Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes, liderados pela ONG LIBERTA, apontam mais de 110 rotas nacionais e 140 rotas internacionais no tráfico de seres humanos. A sociedade e os governantes têm a tarefa urgente e necessária de criar mecanismos de superação da subnotificação de casos de tráfico de pessoas, possibilitando acordos do Ministério da Justiça de cooperação técnica para combater estes crimes, com outros ministérios e organizações da sociedade civil”, pondera Alessandra.
É necessário, para a articuladora da comissão da CNBB, que os sistemas públicos de proteção e assistência social estejam atentos e possam se integrar para que o tráfico humano não atue com tanta veemência em solo sul-americano.
“É necessário oferecer cursos destinados a profissionais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que engloba os Creas e os centros de referência de assistência social (CRAS). Também seria uma medida eficaz no enfrentamento deste crime a atuação junto ao Ministério da Saúde, com capacitação de gestores e servidores para ficarem atentos a possíveis casos de privação de liberdade e, por fim, a criação de campanhas voltadas para a sensibilização sobre o tráfico de pessoas, colocando as meninas e mulheres no centro do debate”, adverte.
Vulnerabilidade das mulheres
Dados recentes das Pontifícias Obras Missionárias (POM) apontam que as mulheres entre 25 e 34 anos correm um risco muito maior de pobreza do que os homens. “As mulheres são mais vulneráveis, em função de um processo social histórico: o machismo”, lamenta Alessandra.
Mesmo atualmente as mulheres sendo as responsáveis diretas pelo sustento de muitas famílias, ainda são as mais vulneráveis e menos protegidas pela sociedade. “Ainda hoje, mulheres são vítimas de desigualdades econômicas, são muitas vezes as responsáveis pela renda da casa e da família, ganham menos que os homens e trabalham mais e estão expostas de maneira cruel às violências domésticas, psicológicas, patrimoniais, abusos e assédios sexuais. Todos estes elementos juntos colocam as mulheres neste lugar trágico da vulnerabilidade historicamente reafirmada em dias atuais”, aponta.
O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, alerta para os perigos e crimes que cercam o tráfico humano. Além das palavras do Santo Padre, a Igreja tem atuado junto aos mais vulneráveis deste crime. “A Igreja não pode ter medo, deve denunciar e defender a vida destas pessoas”, assegura.
“Por isso é importante acompanhar as diferentes proposições de materiais, vigílias, seminários e engajamento pelo enfrentamento ao tráfico de pessoas, missão de cada pessoa comprometida com o Evangelho”, finaliza.