Mulheres ligadas às lutas sociais denunciam: a privatização do saneamento para “atender a população pobre”, como defende o mercado, só aprofunda desigualdades. Conta fica mais cara – e serviços sequer chegam às periferia e áreas rurais

Por Marcos Helano Montenegro | Outras Palavras

Protesto contra falta d’água, em São Paulo SP, | Foto Luiz Claudio Barbosa/Futura Press/Folhapress/Reprodução da internet

O artigo Marco do saneamento: retroceder jamais, publicado às vésperas do Natal, pretende-se um manifesto subscrito por qualificadas mulheres da Infra Women Brazil defendendo as privatizações e o arcabouço privatista dado ao saneamento pelo governo Bolsonaro.

Segundo elas, a necessidade de superar as graves violações aos direitos à água e ao esgotamento sanitário de que são vítimas as mulheres brasileiras pobres e suas famílias é o que justifica as iniciativas de solapar os serviços prestados pelas empresas públicas e substituí-las por concessionárias privadas.

No entanto, quem acompanha de perto as modelagens feitas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Bolsonaro sabe que:

1) Estão fora das metas dos contratos de concessão justamente as populações moradoras de vilas e favelas e as populações rurais locais nos quais o déficit está concentrado;

2) Os valores da outorga onerosas pagas pelas concessionárias encarecem sobremaneira as tarifas e inviabilizam a acessibilidade econômica das famílias pobres aos serviços.

Não foi encontrado registro destas signatárias que defendem a privatização dos serviços como meio para “atender a população pobre” se manifestando quando o governo Bolsonaro suspendeu o financiamento do programa de cisternas para a população do semiárido ou quando o Programa Nacional de Saneamento Rural foi engavetado pelo mesmo governo. Elas denunciaram a incompetência da concessionária privada em atender a população pobre de Manaus que continua sem esgotamento sanitário depois de mais de vinte anos de privatização?

Várias signatárias do manifesto privatista têm interesse direto nos negócios da privatização dos serviços públicos de saneamento como consultoras ou como dirigentes de grupos privados. Não comparece entre as signatárias nenhuma mulher das muitas que se destacam nas lutas populares por água, saneamento, habitação, reforma urbana e reforma agrária. Por que será?

Enfim, as mulheres do negócio do saneamento se pronunciam defendendo os interesses das mulheres pobres. Comovente e adequada aos tempos natalinos. Acredite quem quiser na sinceridade da mensagem…

Assinam:

Ana Lucia Nogueira de Paiva Britto – Professora da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro