Entre os dias 14 e 15 de abril, no Centro Diocesano de Pastoral, acorreu o encontro da 4ª Semana Social Diocesana, no processo de construção da 6ª Semana Social Brasileira. O tema da atividade foi "Mutirão pelo Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos". O facilitador do encontro foi Jardel Lopes, membro das Pastorais Sociais da CNBB.
As Pastorais Sociais analisaram as realidades presentes no território da Diocese de Bonfim e levantaram pontos que demandam mais reflexões e ações no contexto social.
Ao final da semana, foi publicada uma carta preparada durante o encontro. Leia na íntegra:
CARTA DA 4ª SEMANA SOCIAL DIOCESANA NA 6ª SEMANA SOCIAL BRASILEIRA
Somos 92 participantes da 4ª Semana Social Brasileira do território da Diocese de Bonfim, que aconteceu nos dias 14 e 15 de abril de 2023, na cidade de Senhor Bonfim-BA, com o Tema: Mutirão pelo Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos e representamos as Pastorais Sociais da Diocese, Movimento de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Central de Fundo e Fecho de Pasto (CAFFP), Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), Associação Regional de Economia Solidária (ARESOL), Associação de Assistência Técnica dos Trabalhadores Rurais e Movimentos Sociais (CACTUS), Lar Santa Maria, Fundação Educativa Popular Padre Alfredo Haasler e José Assis (FEPPAHA), membros das Comunidades de Base, com o objetivo de mobilizar as forças sociais presentes em nosso território num grande Mutirão pela Vida por Terra, Teto e Trabalho.
A partir do diagnóstico da realidade do território da Diocese de Bonfim sobre o Brasil que temos, denunciamos: a concentração e a grilagem de terras e territórios, somadas à implantação de empresas hidrelétricas e parques eólicos e mineradoras que estão violando direitos dos povos da terra e da natureza. O êxodo rural causado pela especulação fundiária, desapropriação e expulsão da população para as periferias das cidades, provoca graves problemas de moradia e fome. A perda de direitos trabalhistas e previdenciários afeta a classe trabalhadora, estimulando o desemprego, ou trabalhos em condições precárias e análogas à escravidão. Vimos com preocupação a realidade das juventudes, muitas vezes sem trabalho, sem perspectivas de permanecer nas cidades e comunidades de origem de origem, sendo forçadas a migrarem em busca de emprego. O fechamento das escolas no campo representa ameaça para a população rural, seu estilo de vida e uma educação contextualizada.
O Papa Francisco diz que “a desigualdade é a raiz dos males sociais” (Evangelii Gaudium, 202). Portanto, requer empenho coletivo “para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos” (Evangelii Gaudium, 188).
Também celebramos e anunciamos as lutas e resistências do povo organizado: movimentos populares, pastorais sociais e igrejas que enfrentam as mazelas sociais com projetos alternativos a fim de garantir a dignidade humana, têm conseguido construir 700 moradias em 10 municípios; mais de 15 mil cisternas de consumo e produção nas comunidades carentes, Escolas Famílias Agrícolas (04); centenas de Grupos de Economia Popular e Solidária produzindo em um sistema que não degrada e não agride as relações humanas nem o planeta; assentar 679 famílias em 17 assentamentos que garantem Terra, Teto, Trabalho, comida para suas famílias e para a sociedade, evitando o inchaço das cidades com a permanência das famílias no campo; centenas de comunidades de fundos e fechos de pastos que de forma cuidadosa usam a terra para produzir e criar de modo sustentável. São chamados os guardiões e guardiãs da caatinga, além das inúmeras comunidades quilombolas que, reexistem, preservando práticas ancestrais na luta pelos seus territórios e nos ensinam valores civilizatórios, um chamado ao aquilombamento, diante do racismo estruturante da sociedade e da política de extermínio dos povos negros.
A 6ª Semana Social Brasileira, sendo a 4ª na Diocese de Bonfim, é inspirada no Papa Francisco, que defende: “Nenhum camponês sem terra, nenhuma família sem teto, nenhum trabalhador sem diretos”. A exortação apostólica do Papa Francisco aponta que “a fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado e que, além de reabilitar uma política saudável que não esteja sujeita aos ditames das finanças, «devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre este pilar devem ser construídas as estruturas sociais alternativas de que precisamos»”. (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 168).
Diante disso, como fruto da 4ª Semana Social Brasileira na Diocese de Bonfim, assumimos os seguintes compromissos:
TERRA
• Fortalecer a unificação em torno das pautas de luta pela Terra;
• Constituir Fórum de Paróquias e movimentos sociais no território daDiocese de Bonfim;
• Realizar o congresso dos trabalhadores(as) para debater as açõescoletivas da luta com o propósito de construir um Plano de Açãocontinuado;
• Criar espaços nos municípios para continuar o debate sobre a Semana Social Brasileira a partir dos três Ts: Terra, Teto e Trabalho.
TETO
• Lutar para que a política de moradia urbana e rural seja uma política deEstado e não um programa de governo;
• Garantir e fortalecer a participação das juventudes nos movimentospopulares sociais para acessar moradia;
• Formação contínua para garantir participação consciente por moradia.
TRABALHO
• Ampliar e fortalecer a formação contextualizada e continuada: social,política Doutrina Social da Igreja;
• Maiores investimentos para expansão e consolidação dosempreendimentos da agricultura familiar, considerando potencialidadeslocais: (licuri, umbu, babaçu e ecoturismo);
• Dar visibilidade e valorizar o trabalho das mulheres donas de casa, tendopresente a divisão social justa do trabalho doméstico e a promoção dageração de renda e autonomia das mulheres;
• Promover o desenvolvimento de atividades socialmente úteis com justaremuneração (monitores de atividades, lazer, cuidadores de idosos,cirandeiras/os, etc).
Senhor do Bonfim, 15 de abril de 2023.
Coordenação das Pastorais Sociais
Diocese de Bonfim