O povo Ka’apor está sob constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e mineração industrial e sofre a sedução dos créditos de carbono; a visita será de escuta e compromisso junto ao povo
A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), em parceria com a Rede Igrejas e Mineração, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e o Grupo de Estudo sobre Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) da UFMA, com outras organizações parceiras, em comunhão com a Diocese de Zé Doca (MA), realizam uma visita de apoio ao povo Ka’apor, na Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada na Amazônia maranhense. A visita será realizada nos dias 19 e 20 de dezembro e permitirá dialogar com representantes do povo Ka’apor, Pastorais Sociais do Regional Nordeste 5 da CNBB e Rede Eclesial Pan-Amazônica no Maranhão (REPAM-Maranhão), Movimentos Populares e Organizações de Direitos Humanos.
O objetivo da visita é escutar o povo Ka’apor sobre as suas experiências de autoproteção, suas reivindicações e denúncias, potencializar a visibilidade de suas lutas e oferecer apoio. Haverá reflexões e partilha sobre a situação do estado do Maranhão, as resistências e iniciativas dos povos e das organizações que defendem os direitos humanos e da natureza.
Dom Gabriel Marchesi, bispo de Floresta (PE), e membro da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração, ressalta que a proposta da visita é “ver e escutar, a fim de responder um pedido de socorro lançado pelo povo Ka’apor. Mais uma vez, um povo indígena é obrigado a passar por uma história de invasão das suas terras, de violência de madeireiros e garimpeiros, de ameaças e de assassinatos, de destruição das suas terras através do avanço da mineração”. O bispo lembra que, novamente, a arrogância da força se sobrepõe ao respeito da justiça. “A violência do poder econômico e a cobiça míope dos interesses particulares que lutam contra o direito à vida e o futuro de um povo não são novidade, infelizmente”, reflete dom Marchesi.
“Fazer-se presente, olhar e ouvir, oferecer ajuda, são verbos que fazem parte do Evangelho e da experiencia cristã de todos os tempos. Não queremos ser omissos. E temos o desejo e a esperança de dar um sinal, pequeno, mas real, que a encarnação do Senhor traz consigo a partir de agora e para sempre: um reino de justiça e santidade”, sinaliza o bispo.
Contexto do povo Ka’apor
O povo indígena Ka’apor sofre ameaças com o avanço da mineração, práticas ilegais do garimpo e invasões de madeireiros. O território deste povo representa um mosaico ambiental, último resquício da floresta amazônica no Maranhão. Nela, estão as Terras Indígenas (TI) Alto Turiaçu, Awa, Caru, e a Reserva Biológica do Gurupi. No território que faz fronteira com o estado do Pará, encontra-se também a TI Alto Rio Guamá. A área indígena está à margem direita da BR 316 (Belém, Teresina, Recife); na margem esquerda ficam territórios quilombolas.
O território está sob tensão e constantes ameaças de madeireiros, que invadem as terras indígenas para explorar madeira nobre de forma ilegal. Os Ka’apor denunciam que os madeireiros invadiram uma aldeia do território de forma violenta. Nos últimos anos, pelo menos 12 pessoas foram assassinadas e diversas lideranças Ka’apor ou aliadas a este povo precisaram entrar em programas de proteção a defensores. Entre as vítimas, os Ka’apor denunciam a morte por envenenamento de um de seus principais líderes, o Sarapó.
Assédio do mercado de carbono
O mercado de carbono é uma grande ameaça para o povo Ka’apor. O assédio desse mercado já causa conflitos internos, o que desrespeita a única e maior organização ancestral do povo, os Tuxa Ta Pame. O território possui diversidade de flora e fauna e é alvo de empresas internacionais de minérios que atuam de forma irregular na região.
Contestando a precariedade do Estado frente aos ataques sistemáticos a suas terras, os Ka’apor montaram autonomamente um sofisticado e eficaz sistema de autoproteção. Os “Guardiões da Floresta” constroem sua proteção a partir de políticas autodeterminadas de educação e saúde, vigilância e demarcação constantes das fronteiras de seu território e uma organização comunitária coletiva. Além da violência física que os povos sofrem, o território sofre violações ambientais com ameaça dos madeireiros, dos garimpeiros e dos projetos de mineração industrial, que ganharam força nos últimos anos.
Coletiva de Imprensa
Logo após a visita, está prevista para o dia 21/12, às 08h30, uma coletiva de imprensa. A delegação irá partilhar as impressões sobre a missão, apresentar denúncias e recomendações e testemunhar como a Comissão e a Igreja local pretendem continuar acompanhando a causa deste povo indígena. A coletiva será realizada no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão (IESMA), Rua do Rancho, 110, região central de São Luís, MA.
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