SSB
27/07/2020

Fonte: ihu.unisinos.br

Em 25 de julho, o Brasil comemorou o dia do trabalhador rural, na data, o cardeal Michael Czerny, secretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, em nome do Papa Francisco, enviou uma mensagem em que manifestam gratidão pelos gestos de partilha do Movimento dos Trabalhares Rurais sem Terra (MST): “nossa alegria pelo gesto bonito de distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos da Covid-19”.

Desde o começo da pandemia, os assentamentos da reforma agrária têm distribuído mais de 2 mil toneladas de alimentos, principalmente nas periferias das cidades. No dia 25, cinco mil famílias camponesas de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária do Paraná doaram aproximadamente 200 toneladas de alimentos.

A informação é de Luis Miguel Modino.

Desde o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sua coordenação nacional tem destacado nas últimas semanas que “é importante reforçar a solidariedade, sobretudo nesse tempo de pandemia, onde o governo lança-se em ofensiva contra os trabalhadores e trabalhadoras, contra os direitos dos povos indígenas, quilombolas e sem terra”. Essa mesma ideia aparece na mensagem assinada pelo cardeal Czerny, “esta pandemia traz muita dor e sofrimento em todo o mundo, sobretudo às pessoas mais pobres e excluídas”.

Foto: Luis Miguel Modino

Diante disso, o texto enviado às famílias da Reforma Agrária enfatiza que “partilhar os produtos da terra para ajudar as famílias necessitadas das periferias das cidades é um sinal do Reino de Deus que gera solidariedade e comunhão fraterna”. Essas são atitudes que fazem presente o agir de Jesus, que encheu-se de compaixão diante das multidões famintas, como recolhido no Evangelho. É por isso que a mensagem afirma que “a partilha produz vida, cria laços fraternos, transforma a sociedade”, algo que tanto o Papa Francisco como o cardeal Michael Czerny desejam que seja um gesto que “se multiplique e anime outras pessoas e grupos a fazerem o mesmo”.

Um exemplo dessas atitudes o encontramos em Belém, onde a Rede Amazônica de Solidariedade, que reúne a CPT, o MST, a Sociedade Paraense de Direitos Humanos, a CRB, e outros movimentos, estão concretizando “a solidariedade da terra e a cidade, na partilha dos produtos dos assentamentos aqui na região mais próxima de Belém”, segundo o padre Paulo Joanil da Silva, agente da CPT. Se trata de alimentos produzidos pelos assentamentos da reforma agrária, sem agrotóxico, em grande quantidade, que têm sido organizados por mais ou menos 20 jovens, em 300 cestas básicas, no salão Dom Hélder Câmara, da CNBB Norte 2.

Foto: Luis Miguel Modino

Neste dia 25, depois de um momento de mística, os alimentos estarão sendo distribuídos na periferia de Belém, em comunidades onde “a fome predomina, o desemprego pesa, onde a comunidade mais vulnerável está esperando”. O povo pobre da periferia, “sofrendo em consequência da pandemia, e também sofrendo todo tipo de discriminação, de racismo, de perversidade desse sistema capitalista”, afirma o padre Paulinho. Segundo o religioso, “a fome na cidade, ela é vencida com a luta do campo, dos camponeses, dos trabalhadores rurais sem terra”. O agente da CPT diz que “é um ato que vem a provar, mais uma vez, que a reforma agrária é o caminho, a terra para os sem-terra produz para todos”. Não podemos esquecer que 70% do alimento que chega na mesa dos brasileiros vem da agricultura familiar.

Este gesto de partilha é visto pelo padre Paulinho como sinal de que “todos e todas somos chamados a apostar pela reforma agrária”, o que deve levar a conseguir não só a terra como os demais direitos no campo e a valorização da agricultura familiar. Isso leva o religioso a lembrar do desejo do Papa Francisco, terra, teto e trabalho para todas as pessoas do mundo.

Na mensagem, o Santo Padre e o cardeal enviam a bênção de Deus “sobre os produtos que vocês estão partilhando e que Ele abençoe também a todas as famílias que doaram e aquelas que vão receber os alimentos”. Ao mesmo tempo, eles imploram “que o Espírito Santo vos proteja do vírus da Covid-19, vos dê coragem e esperança neste tempo de isolamento social!”. Aproveitando o dia dos agricultores, eles pedem “que o nosso Bom Deus proteja e abençoe todas as famílias que trabalham na terra e lutam pela partilha da terra e pelo cuidado de nossa casa comum!”.

Leia a carta na íntegra

Roma, 25 de julho de 2020

Queridos irmãos e irmãs!

Em nome do Papa Francisco e também em meu, queremos manifestar a nossa alegria pelo gesto bonito de distribuição de alimentos que as famílias da Reforma Agrária no Brasil estão realizando nestes tempos da Covid-19. Esta pandemia traz muita dor e sofrimento em todo o mundo, sobretudo às pessoas mais pobres e excluídas.

Quando Jesus viu as multidões famintas encheu-se de compaixão e multiplicou os pães para saciar a fome do povo. Todos se alimentaram e ainda houve sobras (Mc 6,34-44). A partilha produz vida, cria laços fraternos, transforma a sociedade. Desejamos que este gesto de vocês se multiplique e anime outras pessoas e grupos a fazerem o mesmo, pois “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9,7).

Pedimos a Deus Pai que derrame sua bênção sobre os produtos que vocês estão partilhando e que Ele abençoe também a todas as famílias que doaram e aquelas que vão receber os alimentos. E que o Espírito Santo vos proteja do vírus da Covid-19, vos dê coragem e esperança neste tempo de isolamento social! E neste dia dos agricultores, que o nosso Bom Deus proteja e abençoe todas as famílias que trabalham na terra e lutam pela partilha da terra e pelo cuidado de nossa casa comum!

Cardeal Michael Czerny S.J.