Foto Romaria de 2023 | Arquivo Renser

Com a aproximação do marco dos cinco anos do rompimento da barragem da Vale S.A, na
mina Córrego do Feijão, se aproxima, também, a V Romaria pela Ecologia Integral a
Brumadinho. Organizada pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), da
Arquidiocese de Belo Horizonte, a Romaria conta com a participação de familiares das
vítimas do desastre-crime da mineradora, pessoas das comunidades atingidas, das Assessorias
Técnicas Independentes, dos movimentos pastorais, sociais e entidades da sociedade civil.
Como todos os anos, a Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho tem como objetivo
fortalecer as manifestações em memória às 272 vítimas do desastre-crime da Vale. Ao mesmo
tempo, busca denunciar a imensurável destruição ambiental que, ainda hoje, segue gerando
graves consequências que assolam o território de Brumadinho e demais comunidades ao
longo da Bacia do Paraopeba e da Represa de Três Marias.


Diante dos cinco anos de impunidade que marcam a tragédia, visto que os responsáveis não
foram responsabilizados criminalmente, além do início do julgamento do pedido de
habeas-corpus do presidente da Vale à época do rompimento, Fábio Schvartsman, a Romaria
deste ano apresenta como tema a urgência de justiça, inspirada no lema bíblico “Das alturas,
orvalhem os céus. E da terra, que chova a justiça (Is, 45,8)”.

Cacica Célia Angohó, povo Pataxó Hã hã hãe atingido pelo rompimento da barragem | Foto: Breno Botelho


Cinco anos de injustiça
As famílias das vítimas fatais seguem lutando para que os responsáveis pelo desastre-crime
sejam responsabilizados. Elas também cobram o encontro das três vítimas ainda não
encontradas: Tiago Tadeu Silva, Maria de Lurdes Bueno e Nathália Araújo. Há cinco anos,
comunidades atingidas ao longo da Bacia do Paraopeba e da Represa de Três Marias também
lutam pela preservação das memórias, do reconhecimento dos direitos enquanto atingidos, da
recuperação do meio ambiente assolado pela lama de rejeitos tóxicos e pela não repetição de
crimes desta natureza.


Pelo menos desde o rompimento da barragem em Mariana, em 2015, a Vale sabia que o
refeitório e as instalações administrativas da mina de Córrego do Feijão estavam localizados
dentro da rota dos rejeitos de minério em caso de rompimento. Mesmo assim, a empresa não
tomou providências para garantir a segurança dos trabalhadores.


As investigações da polícia civil mineira e da Polícia Federal concluíram que o rompimento
da barragem foi causado por uma série de falhas da Vale, incluindo a negligência na
manutenção da estrutura e a omissão de informações sobre os riscos envolvidos. Apesar das
provas, até hoje, ninguém foi responsabilizado pelo desastre. O processo na justiça federal,
que busca responsabilizar a Vale, a Tüv Süd (empresa que emitiu o certificado de estabilidade
da barragem) e 16 réus, que eram diretores e gestores nas empresas, ainda está em
andamento. As famílias exigem a responsabilização das empresas Vale e Tüv Süd em todas as
esferas, seja no Brasil ou no exterior, e que a punição sirva, também, para impulsionar
mudanças no setor da mineração, nas legislações e na fiscalização.

Foto Romaria de 2023 | Arquivo Renser


Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho
As peregrinações em romaria são tradições populares da comunidade católica ao longo dos
séculos. Em alguns países da América Latina, inclusive no Brasil, além das romarias
devocionais, há as romarias em defesa dos pobres e da terra, quase sempre com apoio de
movimentos da sociedade civil organizada.


O ponto alto da Romaria é a celebração da missa, no dia 25 de janeiro, presidida por Dom
Francisco Cota, bispo referencial para a Comissão de Ecologia Integral e Mineração do
Regional Leste II, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Santuário
Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, em Brumadinho. Seguida por uma caminhada até
o letreiro na entrada da cidade, onde será realizado o ato das famílias, organizado pela
Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina
Córrego do Feijão (AVABRUM).