Casa de Sementes no Ceará. Foto: Virgínia Maria Yunes

O que pensamos quando falamos de economia? O que pensamos quando imaginamos o mundo quando passar a pandemia de Covid-19? O que pensar quando estamos falando de economia de Clara e Francisco?

Estamos em um mundo dominado pelo discurso econômico.  Falamos de nossas vidas, de nossos relacionamentos e nos pegamos usando palavras como: “vou ‘investir’ nesse relacionamento”, “vou fazer um ‘balanço'”, “vou te dar um ‘crédito” etc. e tal. 

É como se pensássemos desde a tesouraria de um banco.  A economia capitalista é confundida com a própria ideia de economia. Para muita gente, combater o capitalismo é acabar com a economia como um todo.  Eu mesma já ouvi esse tipo de comentário. E por que pensamos assim?  Bom, poderia ter mil maneiras de tentar explicar.  Seguirei por um caminho que, pelo menos para mim, me ajudou a tentar entender o porquê. 

Há pelo menos 250 anos, desde a Revolução Industrial, foi instituído que “tempo é dinheiro”.  Quem vivia do seu trabalho seja na roça, seja no artesanato ou nas pequenas manufaturas, foi aos poucos sendo incorporado ao trabalho nas fábricas, a maquina a vapor, o tear mecânico que estavam nascendo, parindo a Revolução Industrial desde a Inglaterra, em meados do século XVIII. 

Naquela altura, pelas bandas de cá, o tempo já era dinheiro, só que para os senhores de escravos.  Vamos pensar que por volta de 1800 o Brasil já era um grande produtor de açúcar com seus engenhos movidos à força de trabalho escrava.  Mas isso parece muitas vezes esquecido quando falamos da economia da Inglaterra naquele momento.  Era “natural” o trabalho ser escravo e isso foi sendo incorporado na forma da sociedade brasileira se organizar. 

Espera um pouco... o que isso tem a ver com as três perguntas iniciais do texto?  Bom, tem a ver com a primeira pergunta, que é o que pensamos quando falamos em economia.

A ideia de tesouraria, a ideia que tempo é dinheiro, a naturalização do trabalho escravo, a da propriedade privada e podemos ir ampliando para a ideia de desigualdade e injustiça sociais, as diversas formas de violência seja contra as mulheres, migrantes, os/as mais pobres e a natureza.  Tudo isso de alguma forma vai compondo um cenário onde a maioria começa a pensar que é assim mesmo, que não há alternativas, que não há outro caminho a não ser o que a economia e mercado são as mesmas coisas. 

Mas, não é bem assim. Fomos enveredando por caminhos trilhados ao longo da história com a ideia de que “um dia chegaremos a ser um país desenvolvido”. E o que é esse desenvolvimento? Bom, o nosso foi todo baseado em trabalho escravo, genocídio dos povos indígenas e muita violência com quem resistia, isso para não falar o silenciamento das vozes das mulheres que construíram esse país.

E vamos chegando aos dias atuais. O modelo econômico implementado pelos governos e empresas é uma espécie de monocultura. Você não pode pensar diferente, parece uma coisa só: grandes projetos de hidrelétricas, agronegócios, pecuária extensiva; especulação imobiliária expulsando massas de trabalhadores para as periferias urbana; a precariedade da moradia no campo e na cidade; a violência contra os que lutam como prática política; a militarização crescente como modelo de política pública. E muito mais poderia ser dito desse “latifúndio” que se tornou o modelo de desenvolvimento capitalista.

Somado a isso, desde o início dos anos 90, com a implantação das políticas neoliberais, a destinação de recursos públicos para os ricos aumentou dramaticamente.  Hoje 2.153 bilionários detêm uma riqueza equivalente a 4,6 bilhões de pessoas no mundo.  Dois mil bilionários detêm o equivalente a 60% da riqueza do mundo, segundo dados da Oxfam de 2019.  No Brasil, seis homens brancos detêm uma riqueza igual a de 100 milhões de brasileiros e brasileiras, e a cada ano cresce essa disparidade. 

Você acha que essa dinheirama todo veio por trabalho e merecimento?  Claro que não.  Se olharmos a lista dos bilionários brasileiros, vamos ver uma repetição de sobrenomes. Muitos ligados ao setor financeiro, protagonista dessa etapa de financeirização da economia. Você sabia que o presidente da Fiesp não tem nenhuma indústria?

Já imaginaram a quantidade de dinheiro que a burguesia “economiza” em isenção e renúncia fiscal? E toda a infraestrutura que o Estado garante para as grandes empresas continuarem matando, como é o caso da Vale?  Tudo em nome do desenvolvimento e do emprego... Será?

Recursos públicos.  Enquanto isso, a classe trabalhadora vai perdendo direitos e renda de maneira dramática nesses últimos 40 anos, pelo menos, lembrando que é a classe trabalhadora quem paga impostos no Brasil... Ou seja, os recursos públicos em parte vêm da própria classe que não se beneficia dele: a classe trabalhadora. O falso discurso de empreendedorismo encantou por um tempo. Mas será que agora, nesse contesto de colapso em que estamos, continuará sendo o canto da sereia? Sem direitos, sem renda... Como sobreviver? 

Só existe economia porque tem trabalho. Só o trabalho gera riqueza. Por mais que nos digam que a tecnologia vai substituir totalmente o trabalho humano, não devemos acreditar.  Está substituindo muitos postos de trabalho, sim, mas não ao ponto de prescindir da força de trabalho.  Já pensaram a Ambev sem os entregadores de grades de cerveja de bar em bar?  Ela pode até produzir a cerveja sem gente, mas quem distribui?  E só um exemplo... E quem trabalha está sendo absolutamente excluído de qualquer direito.  Lutar pela construção de outra economia sem enfrentar o debate da destinação do dinheiro público para burguesia é chover no molhado.

Economia de Clara e Francisco

Em 1 de maio de 2019[1], o Papa Francisco escreve um chamado destinado a jovens estudantes de economia.  Esse chamado diz respeito a um evento que teria acontecido em março de 2020 em Assis, na Itália, e que foi adiado em função da pandemia com data ainda em aberto. Nessa carta ele se dirige a “quem hoje está se formando e está iniciando a estudar e praticar uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a depreda”. E expõe claramente o objeto do evento: “nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã. Sim, precisamos ‘re-almar’ a economia!”. O que ele chamou de economia de Francisco. 

A economia de Francisco é inspirada em São Francisco de Assis, cuja vida foi ao lado dos empobrecidos e da natureza.  Aqui no Brasil, a partir do encontro nacional[2] realizado em novembro de 2019, foi incorporado no país a economia de Clara, de Santa Clara.  Afinal, como pensar uma outra economia sem as mulheres?  Disso falaremos daqui a pouco.

O Papa Francisco já vinha propondo uma reflexão profunda sobre a economia desde a encíclica papal Laudato Si’. Ali ele resgata o sentido profundo do bem viver quando convida a uma “corajosa revolução cultural” (n. 114) e uma “mudança radical na compreensão e prática da economia” (n. 194), buscando incessantemente alternativas ao modelo do descarte e à economia do saque. Lá o Papa Francisco denuncia o modelo de desenvolvimento “anônimo, asfixiante, sem mãe, com sua obsessão pelo consumo e seus ídolos de dinheiro e poder[3]. https://anec.org.br/acao/economia-de-francisco-e-clara/

Economia é de onde tiramos nosso sustento material.  Eco=casa. Nomia= normas, formas de organização. As populações tradicionais e suas economias garantiram e continuam tentando garantir essa sustentação material por suas próprias formas de organização local, ligada à natureza. Convoca-nos ao desafio que precisamos alcançar, que é a satisfação das necessidades humanas para que todos tenham terra, teto e trabalho.

Uma forma de entender esse modo de vida dos povos originários na América Latina é exatamente a perspectiva do bem viver como forma de conviver com as diferenças multifacetadas da vida, a valorizar a diferença das diversas culturas e integralidade entre os corpos individuais e seus territórios. Bem viver é também lutar de forma permanente para a descolonização de suas terras, pensamentos e tradições.

A terra, o ar e a água não podem ser mercadorias precificadas e vendidas como commodities o acesso aos quais é direito de todos e todas, o cuidado dos quais é dever de todos e todas.

Esse “trator de esteira” desse modelo entra de sola sobre os territórios no campo e na cidade.  E como reagem os povos? Que alternativas apresentam? Como conseguem manter por séculos de colonização e exploração violenta seus modos de ser e de viver?

Essencial também quando pensamos as alternativas para enfrentar o tema da dívida pública. Não só a dívida financeira que drena bilhões dos cofres públicos para abastecer os bancos e sistema financeiro, mas também como denuncia o Papa em sua Encíclica a “dívida ecológica”, ou seja, a dívida que é gerada com a própria natureza e com os povos, extraindo hoje da natureza mais do que ela é capaz de nos dar, sem pôr em perigo sua própria renovação.  Não dá nem para contar o tamanho dessa dívida... Só em janeiro de 2020 foram destinados mais de R$ 30 bilhões para os juros da dívida pública, que remunera rentistas e alimenta o lucro dos bancos. Só em 2019 esse lucro líquido foi de R$ 120 bilhões. 

Portanto, como resume bem Gael Giruad em entrevista ao IHU[4]·, os desafios postos por Papa Francisco para que tenhamos uma ecologia integral e terra, teto e trabalho:

“(...) Primeiro ponto muito concreto: a Encíclica recomenda neutralizar o poder dos banqueiros. Já era o que dizia o Papa Pio XI, [14] em 1931, em sua Encíclica Quadragesimo Anno [15].

Segundo ponto: a Encíclica evoca também muito claramente a necessidade de os países do Norte aceitarem “certo decrescimento”. É preciso romper com o produtivismo, a loucura da concorrência de todos contra todos, do crescimento do PIB a qualquer custo.

Em seguida, em seu grande discurso de Santa Cruz de la SierraFrancisco diz, de forma ainda mais clara do que na Encíclica, que a “chave” são os pobres. São eles que inventarão formas humanas e “dignas de vida”.

E as Claras?

As mulheres são as principais defensoras dos territórios. E elas estão entre as pessoas mais pobres em todo o mundo. São elas que pagam o preço mais alto pelos impactos desse modelo econômico que produz desastres socioambientais. Quem busca água com potes na cabeça quando a água do rio já não passa mais perto de sua casa? Ou quando falta água nas periferias urbanas? Quando alguém adoece, quem cuida? E sabemos que esse modelo de morte adoece ainda mais as pessoas.

As mulheres, em toda América Latina e Caribe estão à frente nas pastorais sociais, movimentos sociais e ambientais, nas organizações de base. Muitas mulheres no campo e na cidade estão organizadas. São as camponesas, indígenas, quilombolas, moradoras de favelas e muitas mais. Estão na defesa de direitos sociais, de seus corpos e territórios, formulando alternativas e ressignificando as resistências.

A ciência econômica, especialmente, muito contribuiu para “universalizar” ideias que simplesmente não consideram as experiências particulares, individuais e de grupo e que, dessa forma, não dá visibilidade àquelas que não têm espaço político e são silenciadas em suas tarefas cotidianas. Mais do que isto, tornou universais ideias, interesses, comportamentos particulares, de um único setor da sociedade: os dos homens, brancos, ocidentais, com mais de 30 anos.

Esse mecanismo de universalizar o que é público, mercantil, econômico, racional, como sendo pertencentes “naturalmente” ao universo masculino, excluindo o restante - que no caso são as mulheres que praticam outra forma de produção não necessariamente monetária e/ou mercantil - é pratica corrente em toda a construção da história do pensamento econômico dos últimos 200 anos.

Graças à invisibilidade do trabalho doméstico, deixou-se de incorporar análises sobre economias não monetárias que pudessem fazer ao menos um contraponto analítico à economia financeirizada que vem dominando todas as esferas da economia atual. Esta tem o foco no ganho monetário fácil mediante aplicações em bolsas de valores, commodities, títulos da dívida pública externa e interna etc., e não está centrada em atender às necessidades materiais das pessoas.

E como sempre na história moderna e contemporânea, se as mulheres, nós, não encararmos de frente a visão de mundo patriarcal e machista que nos invisibiliza (lembram que falei lá no começo? Que a gente vai naturalizando tudo, até que nós mulheres não temos importância...).

Precisaram que mulheres economistas se debruçassem sobre as ciências econômicas para formular o que hoje é conhecido como economia feminista.  E o que é isso? A economia feminista estuda a história do pensamento econômico analisando por dois caminhos: a crítica à invisibilidade das mulheres no pensamento econômico clássico e neoclássico e a recuperação das ideias de algumas economistas silenciadas pela História e pelas correntes dominantes da disciplina.

A economia feminista busca questionar algo que vai além de entender as consequências de um modelo econômico atual. Ela procura as causas como origem e não como consequência imediata dos efeitos negativos provocados pelo sistema.

As economistas feministas começaram a trabalhar esse tema nos anos de 1960 a partir da seguinte indagação: para quem o pensamento econômico é útil e como a economia não consegue explicar as desigualdades sociais e econômicas crescentes principalmente entre as mulheres? Trata-se, portanto, de ir além da análise sobre o trabalho das mulheres e o trabalho doméstico, pois este normalmente é o enfoque dado aos assuntos relacionados a mulheres e economia.

A economia feminista discute “gênero nas políticas macroeconômicas, como as de orçamento e fiscal, e, mais do que ampliar temas, tem a intenção de promover uma mudança radical na análise econômica, em seus pressupostos básicos e metodologias”[5].

Entretanto, ressalva Cristina Carrasco, a economia feminista é melhor definida como um “amplo conjunto de ideias, debates e propostas com um fundo comum – a crítica à economia convencional por ser ‘cega ao sexo’ e pretender que suas suposições e teorias sejam universais – que se traduzem em um projeto aberto, inacabado, mas promissor”[6].

A partir das últimas décadas do século passado, houve um processo de incorporação massiva de mulheres (classe média) a estudos, ao ensino superior e ao trabalho assalariado. Essa participação está provocando questionamentos no interior de universidades e propiciando mudanças de enfoque em várias disciplinas. Os estudos de gênero estão contribuindo na abertura de novos enfoques que, sob essa perspectiva, denunciam o caráter androcêntrico subjacente ao trabalho científico.

Os estudos de gênero serviram também para revelar a insuficiência das ciências sociais em oferecer um tratamento adequado à desigualdade social entre homens e mulheres, já que não é capaz de explicar tal aspecto.  

As filósofas e teólogas feministas começaram o trabalho de desvelar de um lado a ausência da perspectiva das mulheres na construção das ciências e da teologia, e de outro desenvolveram a crítica antropocêntrica às ciências e à teologia.

A economia feminista, em particular, questiona e critica os paradigmas tradicionais das ciências econômicas por ter também esse enfoque antropocêntrico tanto nos conceitos e categorias como nos meios analíticos utilizados. O indivíduo na economia neoclássica, o homo economicus, ou seja, o indivíduo padrão de seus estudos, é alguém apresentado como se não tivesse sexo, raça ou classe social, que busca satisfazer suas necessidades materiais de forma egoísta, o que traria para o conjunto da sociedade o bem-estar comum de forma natural, pois, como escreveu Adam Smith, a “mão invisível” com seu poder de controle “natural” trabalha para atender a essas necessidades coletivas, o que permite perceber que a economia do cuidado não está incluída nesse paradigma.

Este homo economicus na economia clássica e neoclássica “é, ademais, pensado de forma isolada, como um Robinson Crusoé em uma ilha perdida, que nunca foi criança nem será velho porque não tem relações de dependência com ninguém”[7]. O trabalho de fazer com que ele exista como tal, que se alimente, que tenha capacidade de se relacionar com as pessoas, que tome água, que se vista, que se calce, que tenha saúde, que possa crescer e fazer suas escolhas, não existe nesse formato de economia, pois é realizado por outro tipo de indivíduo, que são as mulheres.

De forma geral, relações desiguais de poder se estabelecem entre homens e mulheres e são silenciadas na vida cotidiana, nas relações, nas ciências etc. Esse silêncio acontece no sentido de que a forma como as mulheres são e estão no mundo não tem voz nem vez.

A luta de libertação das mulheres nunca foi e não é assimilável pelo sistema do capital, por duas razões básicas, segundo nos apontou Mészáros. A primeira é seu papel na família, a qual é responsável pela reprodução da força de trabalho, pela organização do consumo, da transmissão ordenada da propriedade privada de uma geração a outra, pela reprodução de um sistema de valores hierárquicos. A segunda razão é que a igualdade entre mulheres e homens coloca a questão da igualdade substantiva entre todos. Pressupõe a inexistência de relações de mando na qual um obedece e outro ordena, pressupõe que as mulheres se inserem no mercado de trabalho e também nos espaços de poder e que a divisão sexual do trabalho seja eliminada tanto nos espaços públicos como principalmente no privado,  ressignificando as tarefas realizadas para a família, no espaço doméstico, como o cuidar dos filhos etc.

A questão do poder, de como lidar com ele, o que ele é e como se constitui são tarefas desse conceito. “Abolir o presente estado das coisas” – como podemos definir o feminismo – é exatamente o que precisamos agora.  A busca da igualdade substantiva, diferentemente do conceito de igualdade pós-revolução francesa, é algo extremamente necessário, pois constitui uma ferramenta para trabalharmos as relações de poder que historicamente são impostas de maneira autoritária, e não reconhece as dicotomias patrão/empregado(a), homem/mulher, marido/esposa, por exemplo. 

A economia feminista é um instrumento potente de revelar um universo invisível do trabalho das mulheres, de sair da lógica que economia é mercado. Economia é de onde tirarmos nosso sustento material, ela precisa ser cotidiana!  E nada como a luta das mulheres para recriar o que entendemos como economia.

O último livro do Paulo Freire é Pedagogia da Esperança. O ESPARANÇAR! Uma tática fundamental nossa é conseguir manter viva a esperança.


A economia de Francisco e Clara tem esse papel de resgatar a esperança e a certeza, que nós, como trabalhadoras e trabalhadores, temos um papel fundamental que é a reprodução e a produção de riquezas nesse mundo e que, portanto, nós somos fundamentais e somos importantes, e sem nós o capital não existe. E nós temos que discutir um modelo econômico fora do capital porque este já mostrou ser uma equação que iguala à morte e não no que a gente quer construir, que é felicidade, o bem estar, a vida para todos os seres humanos deste planeta.


A economia solidária, a partilha, as cooperativas, a agroecologia, são exemplos dessas resistências. Dessas tentativas de enraizar, ressignificar o bem viver!


Iniciativas com a autogestão, experiências de economia solidaria e tantas outras são sementes da sociedade que sonhamos: os meios de produção nas mãos dos e das trabalhadoras e trabalhadores. O capital é um sistema de controle das nossas relações sociais, do nosso tempo, da nossa força de trabalho. E eles agora, nessa pandemia tremenda, querem continuar ganhando à custa das pessoas, das vidas.

Só é possível pensar em saídas se pensarmos em enfrentar o poder dos de cima, do capital financeiro, das transnacionais etc. Ao mesmo tempo em que precisamos sobreviver, precisamos criar formas de garantir a sustentação material da vida para além dos mercados. Tecer a rede da vida, que é o que nos toca como classe trabalhadora. E para tecer essa rede da vida precisamos nos livrar da rede de morte que nos está levando o sistema do capital.

Temos grandes desafios diante de nós, mas o mundo está em colapso, o mundo que nós conhecemos nos últimos 40 anos. A pandemia COVID-19 deixa o rei nu, não há mercado que dê conta da vida.  As soluções que buscamos virão da nossa capacidade de encantar as maiorias, os/as trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade para a luta por outro mundo para além do capital.


[1] http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/589076-economia-de-francisco-assis-26-28-de-marco-de-2020-mensagem-do-papa-francisco-para-o-evento

[2] https://anec.org.br/acao/economia-de-francisco-e-clara/

[3] trecho do documento de estudo em preparação ao Sínodo especial para a Amazônia.

[4] http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/544958-da-divida-ecologica-ao-debito-do-sistema-financeiro-com-os-pobres-entrevista-especial-com-gael-giraud

[5] FARIA, N., NOBRE, M. “Economia Feminista”, em Cadernos Sempreviva. São Paulo: SOF, 2002. p. 7.

[6] CARRASCO, CRISTINA (Ed.), 1999, Mujeres e economía, nuevas perspectivas para viejos y nuevos problemas. Icaria Ed., Barcelona (Cambridge Univ. Press 1988), pág. 7.

[7] Id., ibid., p. 11.

[7] Id., ibid., p. 11.

Sandra Quintela é Socioeconomista e Articuladora nacional da Rede Jubileu Sul