Ilanyr Felipe Costa, que colaborou no processo da 6ª Semana Social Brasileira, especialmente nos cursos, compartilha sua experiência no processo da 6ª SSB através de uma Carta Aberta

“Foi de forma sinodal a construção do projeto Popular, que deixa um legado para este Brasil, um projeto construído por centenas de mãos. Eu vou sentir muita saudade das inúmeras Análises de Conjuntura desse Brasilizam feitas nas reuniões, de acordar pela manhã e ler pautas das realidades dos territórios brasileiros, de me conectar com pessoas de norte a sul desse país, e de ser parte desse coletivo”, Ilanyr.

Acompanhe a íntegra

CARTA ABERTA A 6ª SEMANA SOCIAL BRASILEIRA

Querida 6ª Semana Social Brasileira,

Ao pedir uma licença a congregação das Irmãs Paulinas, vim para a casa dos meus pais, não imaginava que conheceria você. Ao chegar encontrar o meu pai doente, pude ser uma presença no seu tratamento, precedido pela dificuldade do diagnóstico, mas ao final evoluiu para um câncer gastrointestinal. Nesse período foi você, 6ª Semana Social Brasileira (2020-2023), uma ação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que me acolheu e me ofereceu um trabalho, na qual eu pude me autossustentar e colaborar no tratamento do meu pai. Nos últimos tempos minha oração foi a seguinte: “Deus, pai-mãe, como foste generoso comigo! Obrigada por me dar um trabalho em home office, onde eu posso da minha casa, trabalhar, cuidar do meu pai, e me conectar todos os dias com o Brasil inteiro, através das reuniões online e ações internas da 6ªSSB!” É impossível descrever aqui o que essa oração significa, muitas vezes ela foi feita em lágrimas!

Essa é apenas a introdução dessa carta que escrevo para você, eu quero registrar a minha gratidão à equipe Executiva da Comissão Sociotransformadora da CNBB/6ªSSB, em especial a Alessandra Miranda, secretária-executiva da 6ªSSB e Osnilda Lima, assessora de comunicação, duas mulheres proféticas e estratégicas, na qual eu tive a graça de trabalhar com elas nesses últimos dois anos e meio. Da Alessandra guardo comigo a humanidade e coordenação dos processos das 28 pastorais sociais da qual eu aprendi que de nenhuma reunião se pode sair sem um encaminhamento. E desses encaminhamentos se construiu dia após dia o Documento "O Brasil que Queremos: O Bem Viver dos Povos".

Certa vez ficamos quatro dias em Brasília organizando as ações da 6ªSSB, ao final de pautas difíceis, ou mesmo intensas, Alessandra nos convocava para silenciar e andar pelo jardim, e sentir se aquela pauta fazia sentido, se daríamos conta de executar, se humanizaria tal pastoral. Alessandra nos ensinava a contemplar pautas e tomar decisões mais acertadas. Uma espécie de leitura orante das decisões a serem tomadas. Da Osnilda, aprendi um cuidado mistagógico com a comunicação da Igreja, quando ela fala a comissão executiva escuta, mas pode acrescentar sugestões com base sólida. Ela tem sempre uma preocupação com o outro vulnerável, é sempre o outro que aparece nas pautas da 6ªSSB, nunca é a gente, a voz é das gentes, das lideranças pastorais. Com a comissão, aprendi a força do trabalho em equipe, a diversidade com que cada membro (que pertence a um organismo específico da Igreja) se junta para discutir e construir um projeto em comum. E quero que você entregue um abraço muito afetuoso a Dom José Valdeci Mendes dos Santos, bispo de Brejo–MA, e presidente da Cepast - Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB, e ao Frei Olávio Dotto, OFM, assessor da Cepast-CNBB e à equipe da comissão.

Foi de forma sinodal a construção do projeto Popular, que deixa um legado para este Brasil, um projeto construído por centenas de mãos. Eu vou sentir muita saudade das inúmeras Análises de Conjuntura desse Brasilizam feitas nas reuniões, de acordar pela manhã e ler pautas das realidades dos territórios brasileiros, de me conectar com pessoas de norte a sul desse país, e de ser parte desse coletivo. Alguns momentos me marcaram de maneira muito especial:

  • Os Seminários Nacionais com incidência política, em Brasília–DF;
  • A criação da Pastoral da Moradia e Favela;
  • A Missão de incidência no Estado do Maranhão – MA;
  • A criação do curso: Mutirão pelo Brasil que Queremos: O Bem Viver dos Povos, com os módulos: Terra, Teto, Trabalho, Democracia, Economia e Soberania
  • Os diversos mutirões que a 6ªSSB promoveu: com as Juventudes, com a comunidade LGBTQIA+ e com todos os regionais da CNBB;
  • As relações de amizade e institucionais criadas;

Eu serei sempre grata a você, 6ªSSB, por todo aprendizado, quantas vezes contemplei silenciosamente algumas reuniões, mas todas geraram em mim um impacto que foi me transformando internamente e me fazendo uma pessoa com um olhar diferente para a sociedade, criando uma reverência as pessoas que fazem um trabalho tão humano e profético no seu território.

Ah, e meu pai... Sim, no meio de todo esse dinamismo, meu pai foi ficando cada vez mais fragilizado, até que a sua Páscoa definitiva aconteceu ano passado. Ainda dói muito essa experiência do luto, e ela me faz lembrar dos líderes pastorais mortos brutalmente por lutarem por terra, teto e trabalho. Tive a oportunidade de visitar famílias no Maranhão que passaram por essa experiência. Um pai faz muita falta numa casa, o que me faz compreender por que  Maria Madalena chorava diante do túmulo vazio.

Eu teria muito mais histórias para te contar, mas gostaria que você ficasse com uma palavra: a Comissão Sociotransformadora me transformou! E com essa gratidão eu vou para uma nova missão, que em breve volto aqui para contar.

Grande abraço,

Ilanyr Felipe Costa

Acesse o Guia Metodológico:

O-Brasil-que-Temos-O-Brasil-que-queremos-2.pdf (ssb.org.br)

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