As religiões e os movimentos de espiritualidade precisam assumir que é impossível resolver as desigualdades de gênero sem o compromisso de serem promotores dos direitos das mulheres, destaca o e-book “Mulheres: Fé, Direito e Justiça”, editado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), que abraçou o apoio a lideranças femininas nas igrejas para a superação da desigualdade. Ao integrarem a sociedade e promoverem princípios e valores contribuindo para um mundo melhor, elas “têm o dever de olhar, em profundidade e criticamente a situação das mulheres no mundo”.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista, publicada em IHU
A cultura brasileira, aponta o texto, “é fortemente influenciado pela visão religiosa, especialmente cristã, sobre o papel e o lugar das mulheres na sociedade e nas igrejas”. A experiência religiosa de igrejas se caracteriza pela presença majoritária de homens nos espaços de decisão das comunidades de fé, que reproduzem a cultura patriarcal.
Essa situação é reforçada pela teologia. “A exaltação das representações masculinas de Deus como pai, senhor, salvador, juiz guerreiro” induz à crença de que os homens estão mais próximos de Deus. “As experiência religiosas das mulheres não são incorporadas como experiências salvíficas em muitas religiões; por isso, as imagens de Deus que conhecemos são imagens masculinas”, reforça o texto.
Esse olhar crítico implica, segundo o Conic, “denunciar o injusto, antiético e amoral, que as mulheres, pelo fato de serem mulheres, precisam viver em situações de desigualdade”. Também significa reconhecer que as mulheres são, na maioria das comunidades de fé, “as construtoras diárias da sobrevivência desses espaços”, sem que elas sejam respeitadas em seus direitos e dignidade. Por isso é preciso “promover espiritualidades que resgatem uma reconciliação dos seres humanos, entre eles mesmos e com o planeta”.