O grande desafio consiste na reconstrução do que foi literalmente destruído e na criação de uma atmosfera de civilidade, de dignidade e de irmandade entre todas as pessoas

Ato de torcidas organizadas pela democracia na Avenida Paulista, em 31 de maio | Imagem: Pam Santos

Fonte IHU

Conclamação Pela Vida e pela Democracia, nasceu como expressão de amor à pátria, ao povo brasileiro, especialmente, aos milhões de empobrecidos e marginalizados que passam fome ou se encontram em grave insuficiência nutricional e às famílias que choram as mais de 676 mil vítimas do Coronavírus, a maioria delas, evitáveis.

Nasceu também como protestação contra os verdadeiros crimes cometidos pelo atual presidente contra o povo, os pobres, os povos indígenas, negros, quilombolasmulheres, de outra opção sexual e jovens, contra a natureza e a própria humanidade. Especialmente a forma torpe como enxovalhou membros do STF e do TSE e a segurança das urnas eletrônicas diante de 40 embaixadores estrangeiros convocados ao palácio presidencial.

O grande desafio consiste na reconstrução do que foi literalmente destruído e na criação de uma atmosfera de civilidade, de dignidade e de irmandade entre todas as pessoas.

Esse é o sentido desta Conclamação Pela Vida e pela Democracia ssubscrita principalmente por pessoas ligadas aos direitos humanos, ao trabalho com comunidades de base, por professores universitários, psicólogas, por teólogos e teólogas de várias igrejas, filósofos, por intelectuais e pessoas do meio popular.

Eis o texto.

Vivemos tempos dramáticos, como mundo e como país, tempos que nos obrigam a fazer uma opção, especialmente pela forma como o presidente enxovalhou instituições nacionais e pôs em dúvida a segurança das urnas eletrônicas diante de 40 embaixadores de países estrangerios. Somamo-nos à indignação que veio das principais instâncias do país. Por imperativo humano, ético e também espiritual afirmamos:

Somos pela vida, em toda a sua diversidade, especialmente pela vida humana a partir daqueles que menos vida têm, condenados a morrer antes do tempo.

Somos contra a morte produzida pela violência secularmente praticada contra pobresnegrosindígenasmulheres e LGBTIQ+, e hoje agravada, pois insuflada a partir de cima e naturalizada. Nos insurgimos contra a morte das mais de 676 mil pessoas vitimadas pela Covid-19 que, em grande parte, poderia ter sido evitada se não fosse a irresponsabilidade do governo.

Somos pelo ato de amar que move o céu, as estrelas e nossos corações.

Somos contra armar a população, o que fez disparar o número de mortes violentas na rua, no trânsito e nas casas, como claramente ocorreu em Foz do Iguaçu-PR.

Somos contra o ódio, a difamação, os maus hábitos e a violência simbólica, difundidos pelas redes sociais, Rádios, TVs e imprensa.

Somos pela verdade contra toda a mentira, as fake news e o ocultamento da realidade, como políticas de estado. Consequentemente condemos orçamento secreto parlamentar sem transparência nem indicação clara da aplicção dos bilhões de reais liberados.

Somos pelo cuidado e pela preservação de nossas riquezas naturais, de nossas florestas e biomas, AmazôniaMata AtlânticaCerradoCaatinga e Pantanal, cada vez mais agredidos e devastados; de nossas águas e solos contaminados pelo excesso de adubação química e dos agrotóxicos.

Somos contra a sistemática devastação de nossos ecossistemas, via mineraçãogarimpos ilegais em terras indígenasmadeireiras, avanço das pastagens e do gado, da sojaalgodão e outras monoculturas do agronegócio, voltadas para a exportação em detrimento da produção de alimentos para a população. Com a disparada dos preços, a fome voltou a rondar a mesa das famílias.

Somos pela defesa de nosso rico patrimônio cultural, pelo incentivo à educação de qualidade para todos, à ciência e à tecnologia para estarmos à altura da complexidade e das demandas de nossa sociedade.

Por esta razão, somos contra e condenamos veementemente a desmonte oficialmente conduzido de nosso sistema educacional, de nossas instituições científico-técnicas, das universidades públicas e do menosprezo de nossas tradições populares, afro e indígenas.

Somos contra a privatização dos bens que pertencem a todo o povo, como a água, as terras públicas, as áreas de proteção ambiental, a energia, a Eletrobrás e a Petrobrás.

Somos contra um chefe de estado que não pratica as virtudes que deveriam ser abraçadas pelos cidadãos e pelas cidadãs, que é deseducado, usa palavras de baixo calão, exalta a violência e até mesmo a tortura e está permanentemente em conflito com as instituições que regem um estado democrático de direito.

Somos contra as constantes ameaças de uma ruptura institucional, por parte do chefe de estado, ao arrepio da constituição e no desrespeito às leis.

Somos pela democracia como valor universal a ser vivido em todas as instâncias e como forma de organização social, que busca representar os interesses gerais da população e não os interesses dos poderosos, com privilégios acobertados pelo orçamento secreto. Toda destinação de dinheiro público deve ser transparente, acompanhada pelos cidadãos, e auditada pelos Tribunais de Conta e controlada pelo parlamento e por uma imprensa livre.

Somos pela plena liberdade democrática na manifestação das opiniões, no direito de frequentar todos os espaços públicos e de ter acesso aos bens comuns.

Cultivamos a esperança de que a verdade triunfará sobre a falsidade e de que a convivência pacífica entre todos e todas corresponda ao anelo mais profundo do nosso ser.

Estimamos que a democracia representa uma das melhores formas de as pessoas participarem na construção do bem comum e construir relações que propiciem uma vida mais humana e espiritual e que torne mais fácil o amor, a solidariedade e o cuidado recíproco de uns pelos outros e pela Mãe Terra.

Estamos, finalmente, seguros de que a Vida seguirá abrindo uma senda de esperança no caminhar de nossa atribulada sociedade brasileira.

Petrópolis, 21 de julho de 2022.

Autores

Maria Helena Arrochellas - Diretora do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/CAALL, Coordenadora Editorial do Boletim REDE de Cristãos e membro do Grupo Emaús.

Leonardo Boff - Teólogo,filósofo e membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra, do Centro de Defesa dos Direitos Humanos/CDDH de Petrópolis, escritor e do grupo Emaús.

Márcia Maria Monteiro de Miranda – Educadora popular, Teóloga, Co-fundadora do CDDH de Petrópolis e membro do Grupo Emaús.

José Oscar Beozzo - Historiador, Coordenador Geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular/CESEEP e membro do grupo Emaús.

Celso Carias - professor universitário e do Grupo Emaús.

Aurelina de Jesus Cruz Carias (Leu Cruz) Educadora, liturgista, animadora da Comunidade Batismo do Senhor - Duque de Caxias, RJ e membro do Grupo Emaús.

Francisco Assis Dias de Araujo - Duque de Caxias, RJ

Dayse de Paula Silva - Duque de Caxias, RJ

Vilma Baptista - Duque de Caxias, RJ

Márcia Cristina Ferreira - Duque de Caxias, RJ

Marlene Bartolomeu de Oliveira Silva - Duque de Caxias, RJ

Mariana Freire Lopes - Raiz Orgânica Agricultura

Valmira Freire Lopes - Duque de Caxias, RJ

Maria Amélia Clemente Coelho - Duque de Caxias, RJ

Jorge Luiz de Souza - Duque de Caxias, RJ

Jorge Manoel Coelho - Duque de Caxias, RJ

Wagner Jorge Clemente Coelho - Duque de Caxias, RJ

Tatiana Coelho Gomes da Silva - Duque de Caxias, RJ

Vera Neves Pereira - Duque de Caxias, RJ

Roberto Martins Gomes da Silva - Duque de Caxias, RJ

Umbandistas de Duque de Caxias, RJ

Maria de Lourdes Cruz -Duque de Caxias, RJ

Anna Maria Hassel - Duque de Caxias, RJ

Marta Aparecida Batista da Silva - Duque de Caxias, RJ

Ildete Ferreira Neto - Duque de Caxias, RJ

Flavio Luiz Oliva - Duque de Caxias, RJ

Rafael Cruz Carias - Duque de Caxias, RJ

Marcelo Barros - Monge, escritor, Teólogo niilista e membro do Grupo Emaús.

Sarah Silva Telles – Socióloga, PUC-Rio.

Ivo Lesbaupin -Sociólogo, coordenador do Iser Assessoria e do Grupo Emaús.

Cesar Kuzma - Teólogo, professor da PUC-Rio, presidente da SOTER e membro do Grupo Emaús.

Rosemary Fernandes da Costa - Professora, assessora do MEL (Movimento de Juventudes e Espiritualidade Libertadora), membro do Grupo Emaús e da Comunidade Batismo do Senhor.

Maria Clara Bingemer – Teóloga, Professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio.

Cláudio Ribeiro – Pastor Metodista, teólogo, membro do grupo Emaús.

Edward Guimarães – Teólogo e Professor Universitário PUC-MG.

Luiz Carlos Suzin – Teólogo e Professor Universitário da PUC-Rio Grande do Sul. Professor permanente e pesquisador do programa de pós-graduação em Teologia.

Edson Fernando de Almeida - Teólogo, Pastor da Igreja Cristã de Ipanema, professor universitário e membro do Grupo de Emaús.

Anna Paula Florenzano de Almeida - pela Universidade Estadual de Londrina – PR e Pesquisadora Graduada em do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde (LIPAPS/UERJ).

Rosi Schwantes - Doutora em Ciências da Religião e psicóloga.

Maurício Abdala -Professor de filosofia da UFES e membro da rede nacional de Assessores do Cefep.

Maria Tereza Sartorio - Pedagoga, membro da coordenação do Movimento Nacional Fé e Política, Juiz de Fora - MG

Pedro A. Ribeiro de Oliveira - Sociólogo, professor aposentado da UFJF e PUC-Minas, membro da coordenação do Movimento Nacional Fé e Política, de Juiz de Fora - MG.

Pastora Romi Márcia Bencke - Pastora da IECLB – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.