Elio Gasda
12/08/2021

A crise climática é expressão de uma crise muito maior: a crise de civilização. A saída? Um novo modelo de sociedade e um novo sentido da vida

MHJ/Getty Images

Élio Gasda | Dom Total

Mudanças climáticas são mais mortíferas que a pandemia do coronavírus. Elas ameaçam a existência de toda a humanidade e da vida na terra. Consequência do negacionismo irracional de governos, empresas e de setores da população. Humanidade ameaçada por ela mesma!

Earth Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra)! Em 2021, a humanidade excedeu sua cota anual de recursos regeneráveis em 29 de julho. Seriam necessários 1,7 Planetas Terra para manter os padrões atuais de produção e consumo. Precisaríamos de mais cinco planetas se a população mundial vivesse como nos Estados Unidos. No Brasil, a cota foi esgotada dois dias antes, em 27 de julho (Global Footprint Network - GFN).

2021 ainda terá 155 dias pela frente. Recursos que deveriam durar para o ano inteiro foram consumidos em sete meses. Consumimos 74% mais recursos naturais do que o planeta tem condições de regenerar em um ano. Uma das causas foi o crescimento do desmatamento na Amazônia onde, somente em junho foram registradas 2.308 queimadas.

"A natureza fala, mas a humanidade não a ouve" (Victor Hugo). Há 40 anos os cientistas vêm alertando que se implementem recursos tecnológicos, sociais e organizacionais para evitar a catástrofe.

Esta semana o Painel Intergovernamental sobre o Clima da ONU (IPCC) divulgou o sumário executivo da primeira parte do seu sexto relatório (AR6) sobre o clima. Elaborado por 800 cientistas do mundo inteiro, o texto foi revisado e aprovada por 196 países.

O AR6 mostra que o ser humano é o principal responsável pelo aquecimento global. Até 2075, a mudança climática reduzirá a biodiversidade local em 75%. No oceano, ondas de calor serão mais frequentes e desaparecerão de 70 a 90% dos recifes de coral. Altas taxas de emissões de gases levarão ao desaparecimento metade da floresta amazônica.

Consequências? Escassez de alimentos e de água, doenças e epidemias, condições meteorológicas extremas, desastres naturais: enchentes torrenciais na Europaincêndios arrasadores no Mediterrâneoondas de calor no Canadá, florestas queimando na gélida Sibéria, oito meses de chuva em único dia na China, ondas de frio polar no Brasil. O Centro-Sul enfrenta a pior seca em 91 anos.

Mudanças climáticas estão entre as principais causas dos fluxos migratórios. Tsunamis, secas, desertificação, chuvas torrenciais, inundações, furacões destroem cultivos, matam os animais e tornam inabitáveis regiões inteiras. Centenas de milhões sofrerão um calor mortal, principalmente na África subsaariana e no Sudeste Asiático. A cada ano, 2,7 milhões serão deslocados por inundações e mais de 400 milhões de residentes urbanos serão afetados pela falta de água.

O agravamento do aquecimento global pode levar ao primeiro evento de extermínio em massa das espécies - ecocídio. Uma situação de permanente colapso com regiões inteiras inabitáveis. O ecocídio é também um suicídio. As bases ecológicas do planeta estão ameaçadas. Porque a inércia generalizada? Há sabotagem das propostas da ONU para reduzir os danos?

A ciência climática no Brasil foi desativada por falta de recursos. O negacionismo da crise ambiental é semelhante ao negacionismo da pandemia que produziu quase 600 mil mortes. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) vem alertando sobre o processo de savanização das florestas e perda irreversível da biodiversidade. Amazônia apresenta áreas imensas de savanização.

Não há como negar tantas evidências científicas. E vai piorar. Se o mundo fosse governado por Bolsonaros, chegaríamos ao fim do século com até 5,7º de elevação de temperatura. Ecocídio-suicídio.