Com o objetivo de fortalecer a construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem viver dos povos”, 6ª Semana Social Brasileira e Organizações LGBTQIA+ se reúnem para caminhada de parceria

Imagem: divulgação

"E se Deus ama a todos, nós é que temos de aprender a amar também", Luiz Correia

Por Osnilda Lima | 6ª Semana Social Brasileira

Na última segunda-feira (13), a 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e representantes de Organizações LGBTQIA+ se reuniram para iniciar o processo de fortalecimento e mobilização em prol do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos”.

No convite enviado às lideranças, Alessandra Miranda, secretária executiva da 6ª SSB, disse que “as lutas históricas da população LGBTQIA+ fazem parte deste sonho do Brasil queremos”. E convidou as lideranças a somar “forças nesta direção da igualdade, justiça e respeito para com todas as pessoas”.

Dom José Valdeci dos Santos Mendes, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acolheu os participantes e ressaltou a importância do encontro. “É um momento de escuta e fortalecimento na luta pela dignidade e igualdade, no espirito de comunhão, fraternidade e construção coletiva”, destacou o bispo. Dom Valdeci observou que quanto mais diversidade e participação, mais rica será a construção do Projeto Popular.

“Essa iniciativa da Semana Social Brasileira de iniciar um diálogo com as pessoas e comunidades LGBTQA+, vejo que está no contexto da proposta da cultura do encontro e da fraternidade do papa Francisco. As comunidades cristãs são plurais, sempre foram. Por isso, essa é uma iniciativa muito concreta na busca de uma comunidade de iguais em meio a essa riqueza da diversidade que nós temos. Somos irmãos, irmãs, como diria São Paulo ‘concidadãos, concidadãs’ da família de Deus”, ressaltou Élio Gasda, doutor em Teologia, professor e pesquisador na faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje).

Élio reforçou que “precisamos escutar a todos de nossas comunidades para discernir os sinais do Reino que já estão acontecendo no meio de nós. A diversidade é um dom da Santíssima Trindade para o mundo e para as comunidades. A homoafetividade, a homossexualidade em todas as suas expressões também é um dos dons significativos da Trindade Santa para humanidade. Toda a pessoa é feita à imagem e semelhança de seu Criador. E o amor da Trindade se reflete em cada um de nós, em cada ser humano”, salientou. O professor fez votos de que esta iniciativa da SSB inspire mais espaços de igualdade, de liberdade, de respeito e de segurança para todas as pessoas. “As pessoas, as expressões homoafetivas, homossexuais, da diversidade, elas têm muitos talentos, muitas coisas a oferecer à comunidade de fé, às pastorais sociais: nas lutas por terra, moradia, trabalho e direitos humanos. Que esta iniciativa, este encontro, possa gerar mais visibilidade a todas as pessoas que ainda se sentem cerceadas, reprimidas em sua identidade, em sua experiência de Deus, em sua experiência de fé”, manifestou Élio.

O encontro foi permeado por diálogos e escutas, a partir da vivência de cada participante em sua atuação na Igreja ou no Movimento. Na sequência houve proposições para o caminho a ser percorrido, na articulação entre SSB e Movimento LGBTQIA+ no “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”, rumo ao “Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos”.

Para Denilson Matias da Silva, mestrando na faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) e membro do grupo de pesquisa Diversidade afetivo sexual e teologia, na mesma instituição: “Quão bom seria se nós tivéssemos espaços para que pudéssemos tratar desses assuntos com mais liberdade, afim de que as pessoas pudessem se descobrir como realmente são, perante a sociedade, como obra das mãos de Deus, sem vergonha, sem medo e sem ter quer viver no escondido. Quando a gente pensa nas questões de comunhão, nas diversas pautas, a gente sabe que o grupo LGBTQIA+ está em todos os lugares, ainda que muitos não tenham se aceitado ou não saibam quem são plenamente”, lembrou Denilson, que ressaltou ainda os sinais que o papa Francisco tem dado em seu pontificado na dimensão da acolhida, abertura e respeito. Mas lembrou que isso requer coragem das pessoas para avançar. “O fato é que a gente tem medo por conta de uma série de fatores, mas é necessário perder esse medo e colocar isso ao dia. Há um debate na academia, na investigação, mas precisa ser um debate à beira do fogão, na cozinha, na nossa casa, nos nossos ambientes de trabalho. Esse espaço que vocês nos favorecem agora, já é um primeiro passo para isso”, indica Denilson.

“Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância. Esse é o sentimento que posso trazer para nossa discussão, principalmente neste momento em que o país vive: de ameaça à vida, ameaça à democracia, ameaça aos direitos, ameaça à Casa Comum: o sentimento forte da vida em abundância para todo mundo”, expressou Luís Rabello, coordenador da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, em referência ao texto bíblico do Evangelho de São João (10,10).

O professor da PUC-Rio e líder do Grupo de Pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião, Luiz Correia, lembrou que “Deus ama a todos como somos: LGBTQIA+ e aliados. E se Deus ama a todos, nós é que temos de aprender a amar também. Amar a si mesmo e amar as pessoas. Ninguém está proibido de mudar para melhor, nem as pessoas, nem as instituições. Então, a gente pode ajudar a sociedade, a gente pode ajudar a Igreja a mudarem para melhor”, observou. Luiz se lembrou de uma alocução do papa Francisco por ocasião dos 25 anos do Catecismo da Igreja Católica, o pontífice disse que não se pode conservar a doutrina sem fazê-la progredir, e nem se pode prendê-la a uma leitura regida e imutável. “A doutrina precisa evoluir, mas enquanto isso, a gente pode fazer nossa parte, de acolher as pessoas, de promover a reflexão, de fortalecermos uns aos outros, nos ajudarmos para que a gente possa ser sementes de transformação nos meios onde estamos: seja na sociedade civil seja na Igreja. Nós podemos, de nossa parte, contribuir em diversas frentes”, animou.

Marcos Vinicius Regazzo, da coordenação da 6ª SSB, no Paraná, partilhou que seu sentimento era de esperançar: “Quando eu recebi o convite, me veio uma alegria muito grande, é mais um aliado que se soma e essa nossa causa, enquanto pessoas cristãs LGBTQIA+ que tenta batalhar um espaço, quase que de resistência dentro de nossas comunidades. Mas chegamos a um momento que a Igreja precisa debater essa realidade. Algumas brechas já estão se abrindo. Esse movimento da 6ª Semana Social Brasileira vem somar com tudo isso que a gente vem vivendo enquanto grupo, enquanto Rede que ainda não é reconhecida oficialmente pela Igreja. Mas quando a gente olha para Semana Social Brasileira, e ver ela trazendo essa temática, é um peso grande, uma possibilidade grande em que as nossas vidas ganham um pouco mais de centro na discussão enquanto povo LGBTQIA+”, afirmou.

Na sequência às escutas e partilhas, o grupo elegeu uma agenda para a caminhada de 2022, sobretudo, à luz do tema da 6ª SSB que é “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”, na perspectiva da construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos”.

Por fim, Jardel Lopes, da coordenação executiva da 6ª SSB, ressaltou o mérito da articulação, sobretudo na contribuição social. Ele trouxe a provocação: “Quantos LGBTQIA+ não conseguem um trabalho por conta da condição sexual, quantos vivem em situação de rua, não têm acesso à moradia? Quando você vai olhar, há um histórico de exclusão familiar, exclusão social. Essa questão social pode ser fortaleceria e mudada a partir do olhar LGBTQIA+ na ação da 6ªSSB”, afirmou.

As Semanas Sociais Brasileiras – As Semanas Sociais Brasileiras são uma convocação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora. É realizada de forma coletiva com as Pastorais Sociais, Igrejas Cristãs, Inter-religiões, Movimentos Populares, Associações, Sindicatos e Entidades de Ensino: na pluralidade cultural e étnica do Brasil e articula as forças populares e intelectuais para o debate de questões sociopolíticas do país, para uma ação Sociotransformadora. Nesta 6ª edição o tema debatido é o “Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho”, com a proposta da construção do Projeto Popular “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos Povos”.