O papa Francisco argumenta que após a "escuridão" da pandemia, há uma oportunidade de "fazer novas todas as coisas", citando não por acaso o Apocalipse. Uma necessidade, assim como uma oportunidade. Para mudar a economia, cuidar do meio ambiente, viver na esperança, “que nunca causa desilusão”.
A reportagem é de Fabrizio D’Esposito, publicada por Il Fatto Quotidiano, 22-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini para o site IHU
O cerne da fé de Bergoglio está na entrevista com Domenico Agasso, especialista em Vaticano, sobre quem escrevemos na semana passada a respeito do livro Dio e il mondo che verrà (Piemme / Libreria Editrice Vaticana). Um livro rápido e denso ao mesmo tempo, e que dissipa pela enésima vez as acusações de clérigos da direita e antigos conservadores a Bergoglio "pauperista e comunista". Afinal, o conceito mais difícil para quem tem uma abordagem farisaica da fé em nome da Doutrina e da Tradição - e lamenta o pontificado acadêmico de Bento XVI, inclusive os escândalos de poder - é o da caridade, que para São Paulo é a "maior coisa de todas", mesmo da fé e esperança. E no mundo vindouro, a caridade é fundamental para um fiel.
Francisco diz: “A caridade é sempre a via mestra do caminho de fé. Mas a caridade não é simples filantropia, mas, por um lado, é olhar o outro com os mesmos olhos de Jesus e, por outro lado, é ver Cristo no rosto dos necessitados. As sementes de amor que saberemos semear, com a bênção de Deus, vão brotar no presente e com o tempo vão gerar frutos de bem”. Uma verdade simples e grande, mas que resulta inaceitável para aqueles que degradam estupidamente a Igreja Bergogliana como uma ONG. Em vez disso, uma Igreja "em saída" é uma Igreja que não "julga e divide" e não pratica o "rigor obtuso perante os mandamentos". É uma Igreja que evangeliza, mas evita "o erro espiritual" que "vem de se acreditar justos".
Obviamente, Francisco não contorna as mazelas da Igreja, herdadas após décadas de escândalos sexuais e financeiros. A chamada é para as Congregações Gerais decisivas “que precederam o Conclave em 2013”. “Nós, cardeais, fizemos um apelo ao novo Papa que já estava entre nós: quem for escolhido terá de liderar esta batalha, porque há tempo demais existem cantos que cheiram mal: devem ser descobertos e recuperados, e depois constantemente monitorados”. E é por isso que Francisco acrescenta que é "o tempo da transparência". É o seu principal desafio desde que foi eleito em março, há oito anos. E hoje? Ele responde: "Estou confiante porque portas e janelas estão sendo escancaradas para mudar o ar, deixe sair o ar velho, nauseante e pestilento e entre aquele fresco e regenerador para trazer uma atmosfera de honestidade". Veja só, até o papa menciona a tão vituperada honestidade.
O seu programa é um programa cristão, mas também político no sentido mais alto do termo: “Transparência, depois redução de gastos, sobriedade e bom exemplo. Sem tirar fundos da caridade. Promover investimentos éticos e ecológicos. Comportamento em nome do rigor e da clareza. E chega de segredos". Enfim, sabendo que Cristo em sua "condição de servo" colocou os pobres no centro de seu anúncio. “Lembro-me de um santo bispo brasileiro, dom Hélder Câmara, que disse: 'Quando cuido dos pobres, dizem que sou um santo; quando pergunto a todos sobre as causas de tanta pobreza no mundo, dizem que sou um comunista'”