Dom José Valdeci em celebração hoje (20), no quilombo São Raimundo, em Brejo (MA). Foto: Arquivo pessoal.


No dia 20 de novembro celebramos a luta e a resistência do povo negro, com inspiração em Zumbi dos Palmares, uma das grandes lideranças do Quilombo dos Palmares, que com muita ousadia soube lutar no seu tempo por uma sociedade diferente daquela que foi implantada pela coroa portuguesa e que deixou marcas profundas que permanecem até hoje, como por exemplo, as negações de direitos.

Os quilombos são histórias vivas de resistência, que nos ensinam a não desistir, mas continuar lutando contra o preconceito, o racismo e todo tipo de opressão e ameaças a vida e dignidade da pessoa humana, sobretudo, aqueles vivem à margem da sociedade. Somos chamados e chamadas a ouvir a voz de Deus que diz: “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi o seu grito por causa dos opressores, por isso desci para libertá-lo” (Ex 3, 7-8). Nossa atitude deve ser como a de Moisés: ouvir a voz de Deus e assumir a sua causa junto ao seu povo. Como povo negro, somos a maioria neste país e precisamos ocupar nossos espaços em todas as instâncias de decisões. Não queremos pedir, nem exigir, queremos decidir juntos e juntas o rumo da nossa nação.

A nossa luta é para que esta sociedade seja de iguais, por isso, precisamos como negros e negras estimular nossa criatividade, assumir nosso compromisso alicerçados na memória de nossos ancestrais para construir uma sociedade nova. Diz o refrão de um canto afro: “Vamos construir a história do sonho do nosso povo, com as forças dos ancestrais, rumo ao mundo novo. Santos e santas do povo, rogai por nós!”. Precisamos fazer memória para construirmos novas histórias.

O Estado brasileiro tem uma grande dívida para com o povo negro, que ajudou e continua ajudando a construir este país, no entanto são os negros e negras que na sua maioria vivem à margem da sociedade, tanto no campo como na cidade. A ausência de políticas públicas, a falta de compromisso do governo em todas as instâncias, federal, estadual e até municipal, para com as pessoas empobrecidas, rouba a dignidade e o direito de viver do povo negro. É necessário combater o racismo estrutural. Precisamos unir nossas forças enquanto negros e negras, assim também como com todos que lutam por uma sociedade mais fraterna, para dizer não a todo tipo de opressão e negação da vida.

Celebrar o Dia da Consciência Negra é renovar o compromisso na luta de defesa da vida, tendo como base a abertura para o diálogo, a compreensão do diferente, o pacto com a justiça e o empenho na defesa da vida.
Muito axé!

Fraternalmente,

Dom José Valdeci Santos Mendes
Bispo diocesano de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB.