SSB
09/04/2021

O ranking anual de bilionários mundiais feito pela revista estadunidense Forbes confirma que os últimos doze meses foram generosos com os imensamente ricos, os vencedores que mais lucraram com a crise

Imagem: divulgação

Para alguns a pandemia e o lockdown foram uma “dádiva de Deus”: os bilionários. O ranking anual de bilionários mundiais feito pela revista estadunidense Forbes confirma esse balanço: os últimos doze meses foram generosos com os imensamente ricos, os vencedores que mais lucraram com a crise. Suas fileiras aumentaram em 30%, acrescentando 660 novos participantes ao clube, que agora tem 2.755 membros. Seu patrimônio total em março de 2021 alcançou US $ 13,1 trilhões e aumentou em até US $ 5 trilhões apenas nos últimos doze meses, em um período que para a maioria da população foi marcado por mortes e doenças, desemprego e empobrecimento.

A reportagem é de Federico Rampini, publicada por La Repubblica, 08-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini, publicada no site IHU

No topo da lista está Jeff Bezos, fundador e acionista majoritário da Amazon. Sua empresa venceu o desafio do lockdown ao aumentar sua participação no comércio digital para 42%. Em segundo lugar, Elon Musk da Tesla, seguido por Bernard Arnault (Lvmh), Bill Gates, Mark Zuckerberg (Facebook). O excelente desempenho de muitas bolsas de valores, entre as quais a de Wall Street, contribuiu significativamente para seu ulterior enriquecimento. Só nos Estados Unidos, os 400 mais ricos viram sua participação no PIB dobrar em dez anos, de 9% em 2010 para 18% em 2020.

Diante do novo aumento das desigualdades e da formidável aceleração da concentração da riqueza, o Fundo Monetário Internacional lança a proposta de um "imposto de solidariedade": deveria atingir os mais ricos e as empresas que obtiveram lucros excepcionais com a pandemia e o lockdown. Vitor Gaspar, chefe da seção fiscal do FMI, lança a proposta aos governos para que “os cidadãos percebam que todos contribuem para o esforço de recuperação”. O gerente do FMI enfatiza que 2020 empobreceu particularmente os setores mais jovens e as faixas mais fracas da força de trabalho; recorda o precedente da Alemanha que aumentou a alíquota sobre a faixa de rendimentos mais elevada como um imposto de solidariedade para financiar a reunificação.

Segundo o especialista do Fundo, essa sobretaxa temporária sobre a renda dos mais ricos deveria ser acompanhada por outra sobre os lucros excedentes acumulados em 2020 por muitas empresas. A proposta do FMI está alinhada com as mudanças na política fiscal estadunidense propostas por Joe Biden, e que terá que enfrentar o processo de aprovação no Congresso. Acima de tudo está o aumento do imposto sobre o lucro das empresas de 21% para 28%, ao qual o governo Biden quer adicionar um imposto mínimo global (global minimum tax) sobre as multinacionais.

Algo semelhante está acontecendo localmente, pelo menos nos estados USA governados por democratas. É o caso de Nova York, onde o governador Andrew Cuomo definiu com a assembleia legislativa local um orçamento de 212 bilhões com duas medidas radicais. Por um lado, o aumento da tributação local sobre empresas e pessoas físicas de alta renda, que deveria render 4,3 bilhões de receitas adicionais. Por outro lado, dois bilhões de ajuda aos imigrantes sem visto de residência, para compensá-los por não terem recebido os subsídios federais concedidos pelas várias medidas anticrise de 2020 e 2021.

A virada de Cuomo não era dada como certa visto que no passado o governador havia se distinguido por suas posições moderadas e centristas. Mas toda política econômica está se movendo em direção a uma finalidade redistributiva. O primeiro projeto de lei orçamentário aprovado pelo Congresso durante a presidência de Biden destinou US $ 1,9 trilhão principalmente para aumentar a renda da classe média e dos pobres.