SSB
03/08/2020

O Regional Sul 1 da Coferência Nacional dos Bispos do Brasil publica Carta Compromisso do Seminário Estadual da 6ª Semana Social Brasileira

Mais de 1490 agentes de pastoral, entre bispos, padres, diáconos, religiosas/os, leigos/as, pessoas que atuam em movimentos sociais e populares e representantes de outras religiões, participaram virtualmente entre os dias 24 a 26 de julho de 2020, do Seminário estadual preparatório que o Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou para marcar o lançamento da 6ª Semana Social Brasileira (SSB) no Estado de São Paulo.

Nos três dias de seminário, foram registrados 16 mil visualizações.

Ao final do evento foi lida uma carta compromisso que estabelece um pacto social-econômico-ambiental-cultural, chamado oficialmente, “Mutirão pela vida por terra, teto e trabalho”.

Segundo o secretário-executivo do Regional Sul 1 da CNBB, padre Walter Merlugo Júnior, “em breve, os participantes receberão a síntese das discussões dos grupos, propostas e agendas”.

Leia abaixo a íntegra da carta.

CARTA COMPROMISSO

Aos Cristãos e cristãs leigos/as, religiosas(os), diáconos, padres, (Arce)bispos, ativistas sociais em movimentos populares, irmãs(ãos) de outras pertenças religiosas:

“Vós sois semeadores de mudanças.” (Papa Francisco)

Entre os dias 24 e 26 de julho de 2020, nas plataformas digitais, estabelecemos um pacto social- econômico-ambiental-cultural em lançar oficialmente o chamado por um mutirão pela vida por terra, teto e trabalho.

A pandemia do novo coronavírus (COVID-19), atingiu o Brasil e tornou mais visível a realidade nacional, marcada por profundas desigualdades ao longo de toda nossa história e aprofundada nos últimos anos através do desmonte das proteções sociais conquistadas pelo povo na forma da legislação trabalhista, do sistema de aposentadorias públicas, do Sistema Único de Saúde – SUS, US, do Sistema Único de Assistência Social - SUAS e das formas de proteção econômica representadas pela Política de Valorização do Salário Mínimo, pelo Minha Casa Minha Vida , pela Valorização da Agricultura Familiar e Ecológica, pelo Bolsa Família e pelos Benefícios de Prestação Continuada, processo agravado pela Emenda Constitucional nº 95 que congela os investimentos públicos por 20 anos. Estas medidas, implementadas em nome de uma Política de Austeridade Fiscal, na realidade abandona a proteção social da população em favor de uma dinâmica de mercado para beneficiar o capital em tempos de crise econômica e desemprego crescente mesmo antes da epidemia e que agora seguem seu curso indiferentes ao sofrimento humano nesses tempos sombrios.

Neste contexto tão difícil e complexo nos iluminam as mensagens do Pontificado do Papa Francisco que eleva uma voz de crítica a esta economia a serviço dos interesses dos grandes investidores, e em desfavor das necessidades e direitos dos trabalhadores e da população mais vulnerável, assim como dos direitos da natureza, resultando na destruição da nossa Casa Comum.

A chamada do Papa para combater a indiferença frente às profundas desigualdades sociais, se materializa em uma proposta de reflexão e ação para fazer da Terra, Teto e Trabalho os elementos que alavanquem nossa luta fraterna e solidária em favor da justiça social e justiça ambiental, reordenando a economia para favorecer a vida nos termos da Nova Economia de Francisco e Clara, colocando-a a operar em favor da construção de Sistemas Universais, Integrais e Igualitários de Proteções Sociais.

Um mutirão que busque a dimensão convergente de uma verdadeira Pastoral de Conjunto e outros atores sociais, e contribua na construção de um Novo Pacto entre Comunidade política e Sociedade Civil, que nos permita transformar profundamente as distorções expostas da realidade atual, como nos propõe em suas palavras o Papa Francisco e que se plasma na 6ª Semana Social Brasileira (SSB), através dos mutirões que nos permitam alcançar os Três Ts – Terra, Teto e Trabalho, e que concebem:

  • A Terra como Bem Comum e balizador de um Cuidado com Nossa Casa Comum, mas também da construção de uma Economia Social e Solidária a serviço do conjunto da Sociedade;
  • O Teto capaz de representar todo o Sistema de Proteções Sociais e Econômicas que devem caracterizar uma verdadeira Democracia, opondo-se ao discurso que naturaliza e legaliza a Pobreza, na realidade o empobrecimento das pessoas e dos povos;
  • O Trabalho como reconhecimento do protagonismo humano sem discriminações na construção e usufruto do Bem Comum, com a distribuição da riqueza produzida em uma dinâmica equilibrada com os Direitos Humanos e os Direitos da Natureza. Tudo isso, opondo-se ao predomínio dos interesses do capital sobre o valor do trabalho humano.

Teremos a oportunidade, em forma de mutirão, de refletir sobre estas propostas para o agir cristão atento aos sinais dos tempos em fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo que nos convida a ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-14) em vista de condições dignas para a existência de todos os cidadãs e cidadãos brasileiros.

No processo das Semanas Sociais Brasileiras emergem com bastante força as seguintes ideias e práticas: cidadania ativa, construção coletiva, ecumenismo e inter religiosidade, democracia de alta intensidade e inversão de prioridades do capital para a vida.

Construindo, portanto, um país economicamente justo; politicamente democrático; socialmente equitativo; culturalmente plural; ecologicamente sustentável; e religiosamente macro ecumênico.

Isso posto, nos comprometemos coletivamente no território do Estado de São Paulo nos próximos dois anos:

Convidar as organizações sociais, CEBs, igrejas, grupos religiosos, associações, conselheiros(as) de direitos, vizinhos, parentes, amigos(as), sindicalistas, líderes locais para se integrarem no processo;

  • Informar e explicar o que é a 6ªSemana Social Brasileira;
  • Identificar os principais problemas que o território de vida enfrenta;
  • Valorizar a contribuição de todos e incentivar para assumirem conjuntamente compromissos e iniciativas na solução dos problemas locais, da comunidade do bairro e outros territórios de vida;
  • Acolher diferentes formas de organização já existentes ou outras possibilidades que sejam articuladoras no enfrentamento desses problemas;
  • Construir o Bem Viver.

A 6ª Semana Social Brasileira é uma construção coletiva. O sentido desta construção não estará no evento final, estará no processo assumido, na possibilidade de envolvimento do maior número de pessoas, entidades e forças populares mediadas por um amplo processo de diálogo e articulação social. É uma construção em caráter de mutirão, como os tantos mutirões que os povos empobrecidos costumam fazer, pois reconhecem em Jesus Cristo o amor incondicional de Deus, e na gratuidade, respondem com atitudes fraternas e solidárias, prática capaz para realmar a economia e criar uma nova sociedade.

Que São Paulo Apóstolo, patrono do Estado de São Paulo, e a Virgem de Aparecida, intercedam pelo bom êxito deste mutirão pela vida!

São Paulo, 26 de julho de 2020.

Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho.