No Seminário foi discutido a importância do cuidado, preservação e defesa do Aquífero Guarani e Grande Chaco, uma das principais reservas subterrâneas de água doce do planeta

Participantes do Seminário Aquífero Guarani e Grande Chaco | Foto: divulgação

Por Cláudia Pereira

Em São Paulo (SP), na casa de encontros Sagrada Família, nos dias 5 e 6 de julho de 2022, lideranças das pastorais sociais, de institutos religiosos, representações de conferências e movimentos sociais, debateram a proposta do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em considerar o Aquífero Guarani e o Grande Chaco, como um possível território de uma Rede Eclesial. O seminário discutiu a defesa da água, a diversidade e aprofundou sobre as demandas territoriais que envolvem as questões sociais, culturais, econômicas, ambientais e os impactos da ação antrópica e das mudanças climáticas. 

Dom José Reginaldo Andrietta, bispo de Jales (SP) e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB), ressaltou a imperativo de ações em rede no cuidado e defesa do Aquífero Guarani, a Bacia do Rio da Prata e o Grande Chaco. “Reafirmamos a necessidade de ações conjuntas da Igreja e de outros setores da sociedade civil nesse território, na perspectiva da ecologia integral; e decidimos continuar visualizando a construção de uma rede eclesial nesse contexto, cuja identidade e missão serão definidas conjuntamente, em diálogo com as distintas organizações e instâncias eclesiais concernentes, particularmente o CELAM”. Diante da provocação da construção de uma possível rede eclesial a CNBB, a partir da Comissão Episcopal Pastoral Especial para Ecologia Integral e Mineração, haverá um grupo de trabalho que seguirá integrando a articulação para a criação da rede eclesial.

No primeiro dia de seminário, o professor e doutor em Geografia, Cláudio Di Mauro da Universidade Federal de Uberlândia, apresentou uma Análise do Espaço do Aquífero Guarani e Grande Chaco. O professor explanou sobre os biomas, bacias e os desafios em defesa da água. “Nós temos que discutir sobre a água que é fonte de vida. É fundamental que tenhamos compreensão das relações que estabelece entre a água de superfície, águas dos rios, a água que está nos lençóis subterrâneos superficiais e os aquíferos de profundidade. O aquífero Guarani já foi considerado o maior do mundo. As pessoas pensam que o aquífero é um oceano que está na parte mais interna da crosta terrestre, mas não é verdade. O Aquífero é uma rocha embebida com água e essa água é em grande quantidade, calcula-se que ela seria suficiente para abastecer todos os países onde está instalada por aproximadamente 200 anos. Mas, esta água está sempre sob risco de contaminações e por isso precisamos nos preocupar porque ela nos dá a possibilidade de termos a vida na superfície”, afirmou Cláudio.

Quatro países da América do Sul possuem vínculo com o aquífero Guarani em razão da drenagem destas águas que formam a bacia platina constituída pelo rio Paraná e o rio Paraguai. Centenas de cidades incluindo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul dependem da água do aquífero Guarani, razão pela qual o Seminário discute as questões que envolvem a bacia platina e as águas andinas. O Grande Chaco abrange parte da Argentina, Bolívia, Paraguai e os sete estados brasileiros e concentra uma diversidade de biomas que estão ameaçados. Umas das preocupações que envolve os aquíferos é a expansão do agronegócio nos territórios que geram graves problemas na infiltração de água e causam assoreamentos. A mineração é outra ameaça que destrói os componentes da natureza e produzem efeitos catastróficos que alcançam as áreas urbanas, gerando problemas sociais para as populações mais pobres, povos e comunidades tradicionais. 

O professor Cláudio Di Moura reforçou que a conscientização sobre os aquíferos não pode ser feita do modo tradicional, é urgente que tenhamos uma educação de consciência com liberdade para transformar. Educar para incutir nas pessoas que elas são componentes da natureza e o desrespeito é autodestruição. 

Além das regiões de influência desse possível recorte territorial dos aquíferos, os participantes debateram propostas e dinâmicas para o processo de metodologia nas perspectivas da construção da rede eclesial. O seminário alcançou o objetivo na perspectiva da construção da rede, foram organizados grupos de trabalho, a partir do Brasil, para prosseguir no debate para a constituição da rede.  “Estes dois dias de seminário é muito importante para nós, sobretudo com a páscoa definitiva de dom Cláudio Hummes que é testemunha de vida e presença na igreja. Em sintonia com o papa Francisco que defende a ecologia integral, onde tudo está interligado e uma igreja em saída nós estamos aprofundando nos territórios a partir daquilo que surge e fere a obra da criação, fere a dignidade das pessoas humanas e que nos chama em conjunto a buscar transformações para o bem comum para que a vida possa existir”, afirmou frei Rodrigo Castro que apresentou a síntese do caminho percorrido até aqui para a construção da rede. 

“Que bom que estamos começando a construir a Rede. Esse seminário é mais um passo importante da igreja para caminharmos juntos para buscar soluções em defesa da vida e da água que é limitada”,  destacou irmã Joana Ortiz.

O encontro finalizou com os encaminhamentos para a construção dos processos metodológicos, processos de escuta, definição para a identificação da rede e todo o processo de articulação.