Por Nívea Martins | Cáritas Brasileira
A 6ª edição da Semana Social Brasileira inicia o Seminário Nacional com o Tema: “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos”. Na manhã deste sábado, 23, as vozes de companheiras e companheiros de todo o Brasil somaram mais de 500 participantes no evento, que ocorre durante o dia todo de forma híbrida, online e presencial em Brasília.
O bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB, dom José Valdeci Mendes, abre a roda de saudação chamando os participantes de todo o país para impulsionar o mutirão do Brasil que queremos. “Que chegue às comunidades, a todos os trabalhadores e trabalhadoras, para que o sonho que sonhamos, seja um sonho junto, de esperança!”
Ainda no início do evento, o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, nos chama a acender uma luz de alerta sobre a indiferença pela qual a sociedade está mergulhada. Citada pelo Papa Francisco, indiferença essa, que gera um sentimento de combate ao diferente, transformando o outro como inimigo. “Não podemos ficar de braços cruzados ouvindo os clamores da casa comum. É preciso agir para que os clamores não cresçam e que acabem.” “Não basta não ser responsável pelos males, é preciso também trabalhar para combatê-los."
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fala dos 30 anos de história e serviço da Semana Social Brasileira, agora em um contexto ainda mais difícil de retrocessos e pandemia, e lembra que somos povos peregrinos a caminho do reino definitivo. “Peço a cada um e a cada uma que não desanime, persista! Siga adiante na bonita tarefa de fazer o bem buscando transformar realidades”.
Abrindo o momento de reflexões e experiências, Ormezita Barbosa, diretora executiva do Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), traz o tema da Terra/Território, através de uma fala sobre os aspectos da realidade social, econômica e política do Brasil. Ozmezita lembra que estamos vivendo em um período marcado por muitas disputas pelos bens comuns, e percebemos como isso tem intensificado os conflitos e atingido de forma muito específica grupos de povos e comunidades tradicionais.
“A disputa pela água tem sido um elemento central dos conflitos principalmente no campo e isso tem gerado um intenso processo de desterritorialização desses povos e comunidades tradicionais e destacamos o quanto a pandemia contribuiu para que esses conflitos se acirrassem e novos conflitos fossem surgindo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, em 2020 houve um aumento de quase 5% de conflitos agrários a mais em relação ao ano de 2019 ”.
Ao abordar os temas dos Mutirões pela Vida, Sandra Quintela, da equipe da coordenação nacional da 6ª SSB e Rede Jubileu Sul Brasil, fala da realidade de milhões de famílias brasileiras vivendo na vulnerabilidade e que buscam um espaço digno de moradia, de teto.
“Mais de 21 mil famílias foram despejadas durante a pandemia e quase 100 mil famílias estão ameaçadas de despejo no Brasil hoje, morando em situação precária, em cortiços, sem saneamento básico, sem água potável e mesmo assim estão ameaçadas de despejo. Então é muito importante a discussão sobre a função social da propriedade, tanto quando discutimos terra, quanto teto. São quase 8 milhões de residências no Brasil vazias, enquanto são quase 8 milhões de pessoas sem teto.”
Sandra ainda enfatiza que quando se fala em teto é preciso englobar tudo: comida, energia elétrica, escola pública de qualidade, saneamento básico, e alerta para o aumento crescente do gás, da energia elétrica e das dificuldades que só se acumulam. “Na pandemia, se não fosse as organizações nas periferias, no solidariedade dos movimentos terra/teto como o MST, muitas pessoas estariam passando fome. As periferias se auto organizaram para enfrentar a pandemia e a fome. Olha, o potencial de vida que temos aí. É semente e sonho, projeto reconstrução, mutirão pela vida!”
Destacando o tema Trabalho, Jardel Lopes, da equipe de coordenação da 6ª SSB e secretário nacional da Pastoral Operária, traz a definição do Papa Francisco do trabalho como o centro de todo pacto social, sendo todas as questões já levantadas perpassam pelo tópico. Jardel faz um breve panorama da situação dos trabalhadores e trabalhadoras hoje no país, sendo mais de 60% da população econômica ativa (que trabalha), está sem proteção, sem direito, desempregados e trazendo de volta o aumento de casos de trabalhadores em condição análoga à escravidão. Destacando as mulheres e homens negros que são ainda mais vulnerabilizados.
“São mais de 50 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em condições de vulnerabilidade, que estão desempregados ou desalentados. O número de desalentados que temos hoje supera o número que já tivemos de desempregados no nosso país. É um drama, porque se trata de pessoas que já perderam a esperança de conseguir emprego ou são subutilizadas, ou na informalidade, sem direitos ou com direitos reduzidos.”
Em sintonia com os temas refletidos através de falas e vídeos inspiradores, a primeira parte do Seminário Nacional Semana Social Brasileira é finalizada com falas de dom José Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformador da CNBB que resgata cada um dos pontos e as dimensões das lutas por Terra, Teto e Trabalho em uma fala forte e provocativa de Kelly Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra.
“Vivemos em um tempo histórico, como trouxe as várias sínteses que ouvimos hoje. Essa confrontação está entre, os interesses da vida humana, as necessidades humanas e os interesses privados do capital. É a luta de classes materializada na vida contra a morte. Na luta daqueles e daquelas que querem viver e é por isso que é tão importante que a gente atualize esses elementos e tenha eles como um grande motivador para que a gente possa avançar nos processos de libertação do nosso povo”. Marcamos um novo ciclo do projeto popular para o Brasil: o Brasil que queremos”.
O Seminário Nacional da 6ª Semana Social Brasileira continua durante toda a tarde com trabalho em grupo e plenária virtual, finalizando uma carta de síntese construída durante o evento.