Aumentar o emprego, reduzir a desigualdade e proteger o meio ambiente

Imagem: Divulgação

É fundamental alavancar um novo desenvolvimento baseado na solução dos nossos problemas mais imediatos. Saúde, educação, transporte, habitação, saneamento e outros. A recomposição deve se dar puxada por investimentos públicos em áreas sociais, com a preocupação de aumentar o emprego, reduzir a desigualdade e proteger o meio ambiente. Vida com qualidade.

Por Adhemar S. Mineiro |Terapia Política

Os últimos cinco anos têm sido de enormes dificuldades para a população brasileira, em especial para os trabalhadores, maioria da população. Perda de renda, perda de emprego, perda de direitos, pandemia, desmonte de políticas sociais, aposentadoria mais distante, avanço das milícias, tudo conspira contra a vida, as condições de vida, a qualidade de vida da maioria da população.

A política do governo, movendo-se por uma lógica de redução de custos pela perda de renda e direitos dos trabalhadores e por uma política fiscal insana que ao mesmo tempo em que corta vorazmente gastos impõe tetos, gera retrocesso econômico tamanho que o passo atrás da arrecadação fiscal consome todo o dinheiro economizado, seguimos o caminho de uma “austeridade deficitária”.

A esse movimento que já vinha acontecendo, soma-se uma pandemia que evidenciou a um só tempo todas essas fragilidades e jogou a economia na recessão (aliás, como em quase toda parte do mundo), ao mesmo tempo em que realçou a importância do setor público para amenizar a crise e seus efeitos. Ou alguém a esta altura tem alguma dúvida da importância de uma política de rendas (com o auxílio emergencial), do SUS (para o atendimento da Covid e o processo de vacinação) ou dos laboratórios públicos (como o Butantã paulista e a Fiocruz federal) para a gestão da crise sanitária em nosso país?

É necessário observar como construir a partir da destruição, como transformar em limonada o limão

Observar os acontecimentos recentes deve servir para alguma coisa. Perceber e analisar a crise e o que contribui para aprofundá-la e o que possibilita nadar contra a maré negativa no país é fundamental para juntar forças para pensar o futuro. Não se trata de uma análise diletante, mas de procurar caminhos para a frente. E aqui, mais do que nunca, é necessário observar como construir a partir da destruição, como transformar em limonada o limão.

Nosso país deu marcha à ré nesse período, andou para trás e ficou de joelhos. É preciso agora buscar forças para se colocar de pé e começar de novo a andar. E a crise, em especial a crise sanitária, mostrou que as nossas forças podem ser reconstruídas na defesa da democracia em um país mais solidário, e na redução das desigualdades.

Para isso, é fundamental alavancar um novo desenvolvimento baseado na solução dos nossos problemas mais imediatos. Saúde, educação, transporte, habitação, saneamento e outros. A recomposição deve se dar puxada por investimentos públicos em áreas sociais, com a preocupação de aumentar o emprego, reduzir a desigualdade e proteger o meio ambiente. Vida com qualidade.

Os investimentos em obras públicas (transporte, habitação, saneamento, construção e modernização de escolas e hospitais) darão de imediato fôlego ao emprego (construção civil e, em um segundo momento, comércio e serviços com essa renda), e permitirão começarmos a sair da situação desastrosa onde nos metemos. Os investimentos necessários em saúde e educação devem permitir retomar a contratação de servidores públicos, que devem também ser qualificados.

Mas o mais importante: o investimento nestes setores, para além dos ambientes físicos modernizados e de mais pessoal para prestar os serviços básicos à população, deve permitir articular complexos produtivos em torno dessas áreas através de políticas industriais integradoras, políticas de compras públicas e políticas de desenvolvimento tecnológico.

Assim, quando falarmos de saúde, estaremos falando também de uma política de desenvolvimento de remédios e insumos farmacêuticos (ou seja, articuladas com laboratórios públicos, como os da Fiocruz, do Butantã, do Instituto Vital Brasil, entre outros), e com as universidades públicas e privadas, desenvolvendo também biotecnologia, explorando as possibilidades da biodiversidade amazônica e de outros biomas brasileiros, articulada com a produção de remédios dos laboratórios produzindo no Brasil. Mas também estaremos falando do desenvolvimento da indústria metalúrgica, produzindo leitos de hospital, respiradores artificiais e outros produtos relacionados à saúde. Mas também estaremos falando do desenvolvimento necessário da informática associada a vários desses produtos e também da chamada “Internet das coisas”, permitindo articular os produtos hospitalares com sua gestão à distância, por exemplo. Quando se fala de saúde, está se falando de muito mais do que isso e, por conta disso, a política industrial associada às políticas de compras públicas e desenvolvimento tecnológico é fundamental.

Idem para educação, que não tem mais como ser somente salas de aula, quadro e giz, e professor(a). É necessário promover, também com políticas industriais, de compras públicas e desenvolvimento tecnológico, a modernização e transformação estrutural das escolas que temos hoje, com recursos tecnológicos à disposição dos docentes e dos alunos. Isso significa pensar ergonomicamente os assentos, equipamentos de projeção nas salas, informatização das escolas, equipamentos à disposição dos alunos (computadores, tablets), difusão pelo território nacional de rede de wifi gratuito, etc.

Estamos pensando não em um avanço incremental, embora isso seja importante, mas em um salto fundamental para colocar o nosso ensino em outros patamares, permitindo a educação e qualificação dos brasileiros com o objetivo de uma nova qualidade de vida como um todo.

Assim, poderemos crescer baseados em nossas carências na resolução dos nossos problemas. Sair não apenas da situação dos últimos cinco anos, mas para nos prepararmos para o futuro. É preciso transformar fraqueza em força.

Adhemar S. Mineiro é economista, membro da Coordenação da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-RJ), doutorando do PPGCTIA-UFRRJ e assessor da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP).