Um documento-denúncia foi elaborado e divulgado pela 6º Semana Social Brasileira no Maranhão, após visita as comunidades tradicionais e quilombolas do estado do Maranhão. Diferentes organizações e movimentos ligados à Igreja Católica elaboraram esse texto, divulgado no dia 27 de junho, denunciando o evidente crescimento da violência no campo, que vem ocorrendo no Maranhão.
Esse “festival” de barbaridades tem vitimado (inclusive com vários assassinatos) trabalhadoras e trabalhadores rurais das mais diferentes regiões do Estado, incluindo quilombolas, povos e comunidades tradicionais.
Este assunto foi tema do Jornal Tambor do dia 5 de julho (terça), que ouviu José Valdeci Santos Mendes, o Dom Valdeci. Ele é bispo da diocese de Brejo (Maranhão) e presidente da Comissão Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Valdeci diz que “violência no campo criou um ambiente de barbárie no Maranhão”. E citando o Papa Francisco, o bispo católico disse ao Jornal Tambor “que é preciso haver um verdadeiro compromisso com a vida” e que “o verdadeiro cristianismo tem compromisso com a vida”.
Nas tragédias vividas no Maranhão, latifundiários (grileiros, ladrões de terra) avançam sobre os camponeses na base do quero posso e mando, como se estivessem acima do bem e do mal. Neste ambiente de violência, o bispo citou a responsabilidade dos poderes Executivo, Legislativa e Judiciário. Na Assembleia Legislativa do estado, por exemplo, os 42 parlamentares silenciam diante das mazelas vidas pelo povo, a partir de conflitos fundiários.
Sobre a conjuntura nacional, Dom Valdeci deixou bem claro, ao responder uma pergunta sobre as eleições no Brasil, “que o que temos hoje (Jair Bolsonaro) não pode continuar”. Mas ele falou da necessidade de “fortalecer os movimentos e as organizações populares, para que a sociedade não fique refém de nenhum governo”.
O documento elaborado e divulgado pela 6º Semana Social Brasileira no Maranhão foi fruto da chamada missão-denúncia, realizada de 20 a 25 de junho, com o tema “Mutirão pela vida dos povos maranhenses e enfrentamento a violência no campo”, da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Essa missão já nasceu com o objetivo da elaboração de um relatório-denúncia sobre as violações dos direitos humanos e do não acesso à terra, sofrido pelas comunidades ameaçadas em seus territórios no Maranhão. A missão visitou 35 comunidades, em seis munícipios maranhenses: São Luís, Arari, Brejo, Caxias, São João Soter e Buriti. Identificando, escutando e acolhendo a situação em que se encontram os povos e comunidades tradicionais do estado.
Ainda sobre o problema o Bispo disse que “Infelizmente a tendência é crescer a violência, quando se pensa no capitalismo que avança, causando cada vez mais a destruição de vidas humanas. É um problema que deve ser parado com as políticas públicas, devolvendo os direitos para aquelas e aqueles que estão nas terras e nos territórios”.
No final bispo reforçou a urgência do engajamento de toda a sociedade, dos movimentos populares, organizações sociais, igreja na luta em defesa da vida humana. “Precisamos caminhar juntos nessa luta, cada vez mais com consciência do que é ser cristão, vivenciar o cristianismo empenhados pela vida e dignidade”, completou.